Título: Brasil pode ser líder no setor de biotecnologia
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 09/02/2007, Economia, p. 29

Lula assina decreto e prevê investimentos de R$10 bilhões como 'porta de saída' para o aquecimento global

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. Para tornar o Brasil líder mundial na área de biotecnologia dentro de dez anos, o governo estima que estarão disponíveis R$10 bilhões em novos investimentos com recursos públicos e privados, com R$1 bilhão disponível já este ano. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem um decreto que cria a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia.

A medida foi anunciada num momento em que os procedimentos industriais dos países desenvolvidos, incluindo a deficiência na produção de combustíveis renováveis, estão na berlinda, por causa do aquecimento global. A idéia é fazer do Brasil uma opção rentável e com competitividade para ganhar cada vez mais mercados.

- O Brasil é detentor de 20% das biodiversidades do mundo e de inúmeras florestas, o que nos credencia a ocupar um lugar de destaque no mundo - afirmou Lula.

A nova política terá foco estratégico nas áreas de saúde humana, agropecuária, industrial e ambiental. O objetivo principal é incentivar a competitividade da indústria nacional, aumentar a participação brasileira no comércio internacional e acelerar o crescimento econômico do Brasil.

O Brasil é dono de um quinto da biodiversidade mundial, com cerca 200 mil espécies de plantas, animais e microorganismos registradas. A grande novidade desta nova diretriz é que, se até agora os recursos para o setor eram exclusivamente para pesquisas, agora podem ir para a produção de bens e serviços inovadores. Os projetos poderão ser financiados a fundo perdido e serão examinados pelo Comitê Nacional de Biotecnologia, formado por representantes de oito ministérios.

Lula disse que o Brasil está fazendo a sua parte para preservar o meio ambiente. Ele destacou que, desde 2003, foram reduzidos em 52% o desmatamento da Amazônia e que, com isso, o Brasil conseguiu evitar a emissão de 430 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera.

- Em vez de arrasar lavouras ou devastar florestas, a biotecnologia e a eficiência da agricultura geraram um corredor produtivo no país - disse.

O presidente disse que o objetivo, com a nova política, é equilibrar a equação entre democracia, ciência e economia.

- Vamos produzir remédios e vacinas mais baratos, enzimas industriais, alimentos mais nutritivos e avançar em pesquisas científicas. Não há mais tempo a perder - acrescentou, classificando a nova política de "porta de saída" para o aquecimento global.

- Temos condições de mostrar ao mundo que plantar combustíveis é a melhor forma de colher justiça social e, ao mesmo tempo, contribuir para a redução do efeito estufa.

Com limitações orçamentárias, a meta do governo é atrair investimentos privados para ajudar a desenvolver a bioindústria no país. Para esse fim, serão oferecidos recursos de Orçamento da União, BNDES e fundos setoriais.

De acordo com o ministro da Saúde, Agenor Álvares, a medida também permitirá maior oferta de fármacos, melhorando a qualidade e aumentando a concorrência no mercado.

Um setor de US$500 bi

Tecnologia não agride o meio ambiente

BRASÍLIA. Setor que movimenta cerca de US$500 bilhões por ano em todo o mundo, segundo estimativas extra-oficiais, a biotecnologia representa um conjunto de tecnologias que têm em comum o uso de organismos vivos ou parte deles - como células e moléculas - na produção de bens e serviços. Em outras palavras, é a área do conhecimento que permite o uso de material biológico para fins industriais.

A biotecnologia abrange microbiologia, bioquímica, genética, engenharia, química para a solução de problemas ou obtenção de alimentos e bebidas, remédios, vacinas, pesticidas - sem prejudicar o meio ambiente, pois se baseia na biodiversidade para desenvolver produtos e serviços.

Com a nova política, o governo espera estimular o setor privado a se tornar mais competitivo e participativo na bioindústria. Entre os resultados esperados estão a descoberta de remédios; a produção de plantas mais nutritivas e resistentes; a fabricação de plásticos biodegradáveis; e a preservação do meio ambiente. (Eliane Oliveira)

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