Título: Bush acusado de politizar a Justiça
Autor:
Fonte: O Globo, 09/02/2007, O Mundo, p. 33

Senadores se irritam com mudança da lei para indicar promotores públicos nos EUA

WASHINGTON. O enfrentamento entre o governo do presidente George W. Bush e o Congresso de maioria democrata não se resume ao debate sobre a guerra no Iraque. Nos últimos dias, o Senado dos Estados Unidos passou a criticar ferozmente o que considera ser uma manipulação do sistema judiciário, com a mudança não anunciada das regras de indicação de novos promotores públicos aliados do governo. As denúncias ocorrem no momento em que o procurador-geral e secretário de Justiça dos EUA, Alberto Gonzalez, está em visita oficial ao Brasil.

A senadora Dianne Feinstein acusou o governo de ter incluído de forma silenciosa na reforma da Lei Patriótica - pacote de leis para facilitar a luta contra o terror - do ano passado um dispositivo que mudava o processo de indicação de promotores públicos. Até então, eles tinham que ser indicados pelo procurador-geral e confirmados pelo Senado. Caso o cargo estivesse vago, o governo podia indicar um substituto temporário por no máximo 120 dias. Agora, o governo passou a indicar sem precisar de aprovação do Senado e por tempo indeterminado.

Até mesmo a contratação e a demissão de nossos principais promotores agora estão corrompidas por considerações políticas - disse o senador Charles Schumer.

Schumer se refere ao escândalo que está ganhando o noticiário americano. Em dezembro, sete promotores públicos receberam ordens de se demitirem.

Assessor de falcão Karl Rove é indicado promotor

O caso mais polêmico foi a indicação de Timothy Griffin para a vaga de promotor público do Arkansas. Ele foi promotor de esferas menores das justiças civil e militar, mas só ganhou destaque ao se tornar diretor político do Comitê Nacional do Partido Republicano. Ele chegou a ser o principal assessor de Karl Rove, um dos maiores falcões do governo Bush. Griffin entrou no lugar de H.E. Cummins.

Outra demissão polêmica, e sem explicação, foi a da promotora Carol Lam, de San Diego, que deixará o cargo semana que vem. Foi ela quem processou o ex-deputado federal republicano Randy Cunningham, condenado a oito anos de detenção por corrupção.

O subprocurador-geral dos EUA, Paul McNulty, defendeu as ações:

- Quando ouço vocês (os senadores) falarem sobre a politização do Departamento de Justiça, é como uma faca no meu peito. Suas afirmações são totalmente contrárias à minha experiência diária.

Em editorial, o "New York Times" criticou o governo, afirmando que "o sistema judiciário será muito prejudicado se os promotores perderem sua independência."