Título: Clima: governo reage à pressão de países ricos
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 09/02/2007, O Mundo: Ciência e Vida, p. 34

Ministros acusam as nações desenvolvidas de distorcerem a discussão sobre combate do aquecimento global

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. Ministros dos governo Lula saíram ontem em defesa da posição brasileira e fizeram críticas às pressões de países desenvolvidos sobre a responsabilidade do Brasil no combate ao aquecimento do planeta. As manifestações mais fortes partiram do ministro interino do Meio Ambiente, Claudio Langoni, e dos titulares das pastas de Agricultura e do Desenvolvimento, Luiz Carlos Guedes Pinto e Luiz Fernando Furlan.

Langoni afirmou que os ataques que o Brasil vêm recebendo de alguns setores têm sido motivados pela manipulação dos debates que ocorrem em nível mundial:

- Em função da incapacidade de os países desenvolvidos substituírem combustíveis fósseis por renováveis e, com isso, reduzirem a emissão de gases, eles usam como tática centrar as discussões no desmatamento - disse.

O ministro da Agricultura citou números que sabe de cor para rebater as críticas ao desempenho do Brasil ao lidar com a Amazônia. Segundo Guedes, do total de florestas originais que existem no mundo, apenas 6% foram preservadas na Ásia; 8% na África; 9,6% na América Central; 32% na América do Norte (basicamente no Canadá) e 0,3% na Europa. A média mundial é de 24,5%, mas a parcela do Brasil é bem maior, de 69,4%.

- O Brasil é o país que mais contribui hoje para o meio ambiente. Estamos aumentando nossa produção e produtividade sem precisar arrancar uma única árvore - disse o ministro da Agricultura.

Ainda utilizando dados estatísticos, Guedes disse que, nos últimos 16 anos, enquanto a produção agrícola no país aumentou 125%, a área plantada cresceu apenas 25%. Ele acrescentou que, pela última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para este ano, haverá uma redução da área cultivada de 1,8 milhão de hectares, enquanto a colheita de grãos deverá ter um acréscimo de 5,7 milhões de toneladas.

- O Brasil é o país com maior disponibilidade de área agricultável do mundo. Não precisamos desmatar para produzir - acrescentou.

O ministro do Desenvolvimento afirmou que, em fóruns internacionais oficiais, o Brasil é visto como exemplo. No entanto, lamentou o que chamou de "desinformação" a respeito do país.

- Há um paradoxo. Ao mesmo tempo em que somos reconhecidos mundialmente, inclusive pela produção de energia renovável, acabamos sendo punidos por uma imagem que é exagerada - enfatizou o ministro do Desenvolvimento.