Título: Prioridade para professores e infra-estrutura
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 10/02/2007, O País, p. 15

Parlamentares da área educacional defendem metas para o setor

BRASÍLIA. Para os especialistas, o aumento de gastos públicos com educação financiaria três ações principais: aumento de salário dos professores, melhor formação do magistério e investimento na infra-estrutura das escolas. O senador e ex-ministro da Educação do governo Lula Cristovam Buarque (PDT-DF) defende mais verbas para o ensino, mas considera imprescindível a reformulação do sistema educacional, que hoje deixa a educação básica nas mãos de prefeituras e governos estaduais. Para Cristovam, o governo federal deveria assumir a coordenação da tarefa, a chamada federalização da educação.

¿ Se chover dinheiro no quintal da escola, no primeiro dia vira lama. É preciso fixar e cobrar metas ¿ diz o senador.

¿ Não existe ainda na própria elite brasileira uma consciência do valor da educação ¿ diz Célio da Cunha, especialista em ensino, no Brasil, da Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura (Unesco).

O Saeb, exame que apontou a piora da educação no Brasil, avalia os conhecimentos de português e matemática de uma amostra nacional de estudantes de 4ª e 8ª série do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio, em escolas públicas e particulares. O teste é aplicado a cada dois anos e, em 2005, registrou queda nas notas médias na 8ª série e no 3º ano do ensino médio, as piores desde 1995. Houve melhora apenas na 4ª série e, ainda assim, a pontuação de português continuou no nível crítico.

¿Para fazer um avanço de verdade, 4% do PIB é pouco¿

A exemplo de anos anteriores, as escolas federais tiraram as médias mais altas no Saeb 2005, superando as particulares. Para Jorge Abrahão, especialista em educação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), isso mostra que o poder público é capaz de oferecer ensino de qualidade. A questão central é o alto custo, que faz dessas escolas exceções.

¿ É caro. As federais são melhores pelo lado da estrutura da escola, dos salários e da formação dos professores, sem falar nos alunos, que passam por uma seleção. Para fazer um avanço de verdade, 4% do PIB é pouco. Mas é preciso uma estratégia ¿ diz Abrahão.

O pacote educacional que o presidente Lula pretende lançar em março prevê a criação de um indicador de qualidade, com base nos resultados da Prova Brasil ¿ espécie de Saeb ampliado feito por alunos de todas as escolas urbanas de 4ª e 8ª série ¿ e em indicadores de reprovação e abandono. A idéia é condicionar repasses federais à melhora de municípios e estados nesse indicador. O deputado federal Paulo Renato Souza (PSDB-SP), ex-ministro da Educação, apóia a idéia:

¿ É preciso medidas drásticas para que o foco da escola seja o aprendizado do aluno.