Título: Família de João deixa casa em Cavalcante
Autor: Pontes, Fernanda e Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 10/02/2007, Rio, p. 16

Vizinhos estão revoltados com o crime

Sergio Duran

Um dia depois do enterro de João Hélio Fernandes Vieites, a família procurou se isolar na casa de parentes. VIzinhos contaram que os pais, Hélcio Lopes e Rosa Cristina Fernandes Vieites não voltaram para casa, no condomínio Padre Nóbrega, no bairro de Cavalcante, depois do sepultamento. O clima no bairro era de revolta. Moradores indignados pediam punições severas para os criminosos que arrastaram a criança presa pelo cinto de segurança por sete quilômetros, depois do roubo do carro de Rosa Cristina na noite de quarta-feira.

¿ Acho que a família não volta mais para cá. Nos últimos dias víamos um caminhão, que começava a levar a mudança para a casa nova comprada no Méier, onde eles planejavam se mudar. Uma tragédia dessas não deve ser fácil de se recuperar ¿ contou um morador.

O condomínio de 62 casas, gradeado e com segurança 24 horas fica a cerca de dois quilômetros de onde o carro foi encontrado com o corpo da vítima, na Rua Caiari, em Cascadura. O pátio onde as crianças costumam brincar, ontem, estava vazio. Os bandidos são tratados como monstros pelos vizinhos, que sugeriam que eles fossem torturados pelo crime.

¿ Estamos mais revoltados depois do choque. Meus netos de 12 e 13 anos me contaram que tiveram pesadelos nesta noite. Eles brincavam dentro do condomínio e jogavam bola com o João. Queremos que esses bandidos sejam punidos e sirvam como exemplo para esses criminosos que cada vez mais pratica roubos com crueldade ¿ disse a aposentada Rosali da Silva Ferreira, de 66 anos, vizinha da família.

Moradores contam que viam João Hélio sempre acompanhado da mãe para ir à padaria, onde sempre pedia enroladinho de queijo. Era ela também quem o levava para a escola e ficava próxima quando ele brincava no pátio com os outros meninos. Segundo José Cabral, morador há 45 anos do bairro, o dia amanheceu triste:

¿ O bairro está de luto. Muitas pessoas foram ao enterro e ficaram chocadas com o nível de barbaridade do crime. O sentimento de revolta nos fez querer linchar os criminosos, quando soubemos que eles tinham sido presos. Por mais que um seja menor, ele não pode ir pra rua em três anos.