Título: Poxa, é só um boneco de Judas
Autor: Pontes, Fernanda e Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 10/02/2007, Rio, p. 16

Alertado sobre o corpo preso ao carro, bandido reagiu com deboche

Cristiane de Cássia

O depoimento de uma testemunha da morte do menino João Hélio Fernandes Vieites, de 6 anos, é mais uma prova de que os assassinos sabiam que o arrastavam. Um motorista ouvido ontem pela polícia disse que alertou os ladrões sobre a existência de algo preso ao carro. Segundo ele, Diego Nascimento da Silva lhe respondeu:

¿ Poxa, é só um boneco de Judas! ¿ referiu-se aos bonecos espancados e queimados em Sábado de Aleluia.

A testemunha prestou depoimento a um delegado em seu local de trabalho. Ele foi um dos motoristas que, pelos sete quilômetros do trajeto, tentaram chamar a atenção dos bandidos para o que eles estavam fazendo.

O delegado Hércules Nascimento já não tinha dúvidas de que os criminosos sabiam da existência do menino preso ao cinto. Segundo testemunhas ouvidas anteontem, o bandido que estava no volante dirigia em ziguezague, como se quisesse se livrar do corpo. Apesar das evidências, o menor X., de 16 anos, e Diego, de 18, confessaram o roubo do carro, mas alegaram desconhecer que o menino estava preso ao cinto do lado de fora.

¿ Antes de sairmos com o carro, vi a mãe puxando a criança e batendo a porta. Nunca imaginei que tivesse alguém preso ali. Só quando paramos o carro, eu vi de relance. Ficamos nervosos e saímos correndo ¿ disse Diego, acrescentando que não conseguiu dormir depois disso.

Diego tem uma irmã de 10 e um irmão de 12 anos. Ele alegou que até por isso jamais faria uma crueldade com uma criança. Sobre os motoristas e motoqueiros que o alertaram, o preso disse que pensou estar sendo perseguido.

Questionado sobre o que faria se tivessem feito o mesmo com seus irmãos, Diego preferiu ficar calado. Perguntado se estava arrependido, ele também ficou mudo inicialmente, mas numa segunda vez respondeu apenas:

¿ Estou.