Título: Exportação movida a petróleo
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 10/02/2007, Economia, p. 31

Duque de Caxias supera São José como 2ª maior cidade em vendas externas do país.

Luciana Rodrigues

Aauto-suficiência na produção do petróleo e a disparada nas cotações da commodity no ano passado alçaram Duque de Caxias ao posto de segundo maior exportador do Brasil. No ranking dos municípios que mais vendem para o exterior, a cidade só perdeu para São Paulo e, em 2006, desbancou São José dos Campos, sede da Embraer. Foram US$6,167 bilhões exportados por Caxias. O número, impressionante à primeira vista, é explicado por uma questão contábil: o Ministério do Desenvolvimento considera como critério para origem da exportação o domicílio fiscal da empresa exportadora, no caso, a Refinaria de Duque de Caxias, a Reduc, da Petrobras.

Assim, quase todo o petróleo exportado pelo Estado do Rio entra na conta do município. Em 2006, o estado, que concentra 83% da produção nacional, exportou US$6,638 bilhões em petróleo, ou seja, quantia só ligeiramente superior às vendas externas totais de Caxias.

¿ O município se consolidou como principal pólo petroquímico não só do Rio como do Brasil. O estado hoje tem essa commodity a seu favor. Mas, em termos qualitativos, falta diversificação, a pauta é muito concentrada ¿ afirma Mario Augusto Scangarelli, da Câmara de Comércio e Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Caerj).

Scangarelli lembra, porém, que Caxias também exportou alimentos ¿ o município tem uma fábrica da Sadia e o frigorífico Calombé, de pescados ¿ e ganhou, em 2006, com a entrada em operações da Rio Polímeros. A empresa vendeu ao exterior US$138 milhões em 2006.

Mas a grande diferença veio mesmo do petróleo. A economista Luciana de Sá, da Firjan, lembra que as exportações do produto no Estado do Rio cresceram 87,4% em 2006. Os preços da commodity subiram 24% e também houve ganhos em quantidade exportada: 50,2%.

`Commodity¿ em Caxias, tecnologia em São José

Se o petróleo ajudou Caxias, contratempos na produção da Embraer prejudicaram São José dos Campos. Um fornecedor de asas atrasou a entrega, forçando a companhia a exportar menos, 130 aeronaves, contra uma meta inicial de 140. Mas, este ano, as exportações da Embraer, e por tabela, de São José, devem crescer com mais vigor: a empresa pretende vender ao mercado externo 170 aeronaves.

¿ Duque de Caxias e o petróleo vão depender da economia mundial para sustentar suas exportações. São José vai depender do fôlego da própria Embraer. É a disputa entre uma commodity e um produto manufaturado de tecnologia e alto valor agregado ¿ afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A produção de petróleo no Brasil cresceu com força em 2006 com a entrada em operação da P-50. A plataforma da auto-suficiência, com capacidade para 180 mil barris por dia (hoje a Petrobras produz 1,9 milhão de barris diários), fica na Bacia de Campos.

¿ Mas, como o critério do ranking é o domicílio fiscal, a produção de petróleo de todo o estado acaba se refletindo nos números de Caxias ¿ diz Luciana, da Firjan.

No Estado do Rio, Duque de Caxias sequer figura entre os dez principais receptores de royalties, indenização paga aos maiores produtores de petróleo que vai diretamente para o caixa dos municípios. Enquanto Campos recebeu R$731 milhões e Macaé, R$390 milhões, Caxias ficou apenas com R$23 milhões no ano passado, segundo o boletim Info Royalties, da Ucam/Cidades. A receita das exportações vai para a Petrobras, mas a prefeitura tenta aproveitar o bom momento vivido pela cidade.

¿ Criamos um arranjo produtivo para incentivar microempresas a entrarem na cadeia petroquímica. Estamos montando outro arranjo para calçados e couro, para tentar diversificar a economia e gerar mais empregos ¿ afirma o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Jorge Rezende Soares.

O município, assim como seus vizinhos na Baixada Fluminense, tem um dos piores índices de saneamento básico do estado. O pedreiro Genival Silvestre de Santana se livrou da seca no semi-árido nordestino, mas a falta d¿água ainda é rotina na sua vida, no bairro de Jardim Leal, em Duque de Caxias.

¿ Vou várias vezes ao dia até o fim da rua, buscar água. É uma dificuldade ¿ conta.

COLABOROU Cássia Almeida