Título: Rodada da OMC será prioridade de encontro entre Lula e Bush no Brasil
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 10/02/2007, Economia, p. 32

Foco é na redução de subsídios à agricultura dos EUA. Etanol estará na pauta

Eliane Oliveira

BRASÍLIA e FEIRA DE SANTANA. O destravamento da Rodada de Doha, que acontece no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), será o principal tema da ampla agenda do encontro, em São Paulo, nos dias 8 e 9 de março, entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush. O governo brasileiro espera um movimento dos Estados Unidos para que as discussões, engessadas desde o ano passado, cheguem a um resultado satisfatório. Já Bush corre contra o tempo, tendo em vista que o mandato negociador que recebeu do Legislativo de seu país para que os EUA firmem acordos na negociação termina em 1º de julho.

O foco é a redução dos subsídios domésticos à agricultura. Segundo fontes da área diplomática, o presidente dos EUA sabe que, com um Congresso com maioria democrata, ficará ainda mais difícil baixar o valor das subvenções concedidas aos agricultores. A nova lei agrícola americana prevê gastos com subsídios de US$87 bilhões nos próximos cinco anos. Além disso, será árduo para o presidente republicano conseguir uma nova autorização (Trade Promotion Authority, o chamado fast track) para negociar a Rodada de Doha.

Presidente americano quer retomar influência na região

A aliança entre Brasil e EUA visando ao aumento da produção de combustíveis renováveis no mundo, especialmente o etanol, e o estreitamento do comércio bilateral também estarão na pauta. Preocupados com a grande dependência do petróleo e outros combustíveis fósseis, os americanos viram no etanol ¿ produzido nos EUA a partir do milho ¿ uma salvação e contam com o Brasil para fazer do produto uma commodity internacional, conquistando, com isso, independência energética. Mas o assunto ainda precisa avançar. Ontem, em evento na Bahia, o presidente Lula criticou os EUA, afirmando que ¿não querem se curvar à tecnologia do Brasil, que produz etanol da cana-de-açúcar, e não do milho, como eles.¿

As conversas sobre biocombustíveis, acreditam fontes do governo brasileiro, terão como desdobramento o aquecimento global. Sempre reticentes quando o tema é a redução da emissão de gases tóxicos, os EUA flexibilizaram sua posição e, recentemente, o presidente Bush anunciou que, até 2017, os EUA cortarão em 20% o consumo de gasolina, parcela que será substituída por combustíveis renováveis, como o etanol.

Por outro lado, Bush quer retomar a influência na América Latina, perdida parcialmente por duas razões. Desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, os olhos dos americanos se voltaram para o Oriente Médio; e esse vácuo foi aproveitado, por exemplo, pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que aumentou sua liderança na região, aproximou-se de Fidel Castro e anunciou o socialismo do século XXI.

Reformulações na ONU também serão tratadas

A situação no Oriente Médio, a força de paz no Haiti e a reformulação das Nações Unidas também serão tratadas no encontro. Até o momento, os EUA não disseram nada a respeito de uma mais que provável candidatura do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Esta é a segunda vez que Bush virá ao Brasil. Lula foi aos EUA se encontrar com o presidente americano duas vezes desde que assumiu. Além do Brasil, Bush visitará, em sete dias, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. Ele deve conversar com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, sobre o acordo bilateral firmado mês passado.