Título: Bolívia toma à força controle de metalúrgica
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Fonte: O Globo, 10/02/2007, O Mundo, p. 39

Tropas ocupam usina de grupo suíço e impedem entrada de executivos. Venezuela compra empresa americana de energia

LA PAZ e CARACAS. O presidente da Bolívia, Evo Morales, desapropriou e tomou à força ontem o controle da empresa metalúrgica Vinto, que era administrada pelo grupo suíço Glencore. No início da manhã, cerca de 200 soldados ocuparam as instalações, na região de Oruru, e proibiram a entrada de seus executivos.

Segundo o presidente, a nacionalização ocorreu por causa de irregularidades na privatização da metalúrgica, em 2000.

¿ A transferência para a empresa inglesa foi feita com muitas irregularidades, assim como suas demais vendas, que sequer tiveram seus valores declarados. Por isso, a Vinto deve voltar para as mãos do Estado ¿ disse Morales.

A Vinto foi vendida nos anos 70 pelo Estado por US$14 milhões para a empresa inglesa Allied Deals, que meses depois a repassou para a companhia Minera del Sur (Comsur), de propriedade do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Antes de se exilar nos Estados Unidos, em 2003, Lozada transferiu o controle acionário da Vinto para o grupo suíço.

O decreto da nacionalização foi divulgado na noite de quinta-feira pelo ministro da Defesa, Walker San Miguel. Segundo testemunhas, ocorreram confrontos entre soldados bolivianos e funcionários que estavam de plantão na usina e não sabiam da nacionalização. Não há, no entanto, informações sobre feridos.

Morales não fez qualquer referência a uma possível indenização da Glencore e o grupo suíço ainda não se manifestou sobre a nacionalização, mas disse que todas as empresas que foram de Lozada serão nacionalizadas.

¿ Todas (as empresas de Lozada) estão em situação irregular e foram compradas em processos de privatização ilegais. Por isso, vamos rever todos os casos. O povo da Bolívia não pode continuar sendo saqueado como era antes ¿ disse o presidente.

Venezuela compra maior empresa elétrica do país

Ontem, o governo da Venezuela assinou um acordo com a companhia americana AES que abre caminho para a nacionalização da maior empresa privada de eletricidade do país, a Electricidad de Caracas (EDC). Segundo o documento, a AES se compromete a vender os 82% das ações que têm da EDC ao governo do presidente Hugo Chávez por cerca de US$739 milhões.

O acordo faz parte do programa anunciado por Chávez no mês passado para nacionalizar empresas nos setores de petróleo, eletricidade e telecomunicações.

¿ Acreditamos firmemente na Venezuela e na EDC como companhia ¿ disse o presidente da AES, Paul Hanrahan, após a assinatura do acordo, no palácio presidencial em Caracas, ao lado do vice-presidente da Venezuela, Jorge Rodríguez, e do presidente da companhia estatal de petróleo PDVSA, Rafael Ramírez.

Cerca de 13% das ações da EDC estão nas mãos de 100 mil venezuelanos. Segundo o governo, os acionistas poderão optar entre manter ou vender as ações. A data para a formalização da compra não foi divulgada.