Título: Ministeriáveis em campanha
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/02/2007, O País, p. 3

Deputado candidato à Agricultura fez abaixo-assinado e visitou ministério duas vezes

BRASÍLIA. Em período de reforma ministerial, o comportamento de políticos cotados ¿ ou que se consideram cotados ¿ para assumir um cargo no primeiro escalão passa a ser notado pelos colegas de Congresso Nacional logo nos primeiros movimentos. Alguns são discretos. Outros exageram. O exemplo que chama mais atenção nesta reforma é o do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), que chegou a fazer um abaixo-assinado com todos os senadores e deputados do partido pedindo a sua nomeação para o Ministério da Agricultura.

Na semana passada, Marquezelli surpreendeu os funcionários da Agricultura ao visitar duas vezes o ministério em busca de informações sobre o funcionamento da pasta. Mesmo sendo aliado do deputado cassado Roberto Jefferson, desafeto do Planalto, e um dos líderes da bancada ruralista ¿ que não é bem-vista pelo PT ¿, Marquezelli já encontrou até um discurso para ser ministro.

¿ O Brasil precisa de paz. Por isso vou ser uma boa ponte entre o governo e o partido ¿ diz Marquezelli.

Já o deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), que tenta a indicação para o Ministério dos Transportes, agiu de forma mais discreta. Mas não escapou aos olhos dos companheiros. Cortou o cabelo para ficar com a aparência de ministeriável, o que gerou piadas dos colegas de Câmara. Antes, Diniz tinha um vistoso rabo-de-cavalo. Mesmo assim, avisa que o PMDB da Câmara não vai abrir mão de espaço para senadores do partido.

¿ O Senado tem todo o direito de ter o seu jardim florido. Mas nós queremos o nosso jardim também sendo florido ¿ avisa Diniz.

A ex-prefeita Marta Suplicy, que ganhou o apoio do PT para pleitear o Ministério da Educação, evita até repassar o número do seu telefone enquanto não for indicada.

¿ Só dou o meu telefone se eu for mesmo para Brasília ¿ avisa Marta.

Mas, se alguns ministeriáveis são cautelosos e discretos, os partidos costumam jogar duro com o Planalto. O PR (ex-PL) quer manter o poderoso Ministério dos Transportes e o Dnit, departamento que cuida das estradas país afora. Mas, diferentemente do primeiro mandato, quer o Dnit de porteira fechada, com todos os cargos do órgão nos estados. Hoje, está fatiado entre os partidos.

¿ O PR é um partido que responde às demandas do governo. Vota unido. Mas, para que eu possa cobrar os compromissos partidários da minha bancada, preciso ter um ministério verticalizado. Não posso ter uma salada de frutas. Se eu tiver o controle de tudo, aí sim posso cobrar resultado da minha bancada ¿ diz o líder do partido, Luciano Castro (RR), reagindo à cobiça dos aliados.

Já o PP luta para manter o Ministério das Cidades com o atual titular, Márcio Fortes. Mas também faz uma lista de cargos que perdeu no primeiro governo e que agora deseja recuperar: a diretoria comercial do IRB, a Secretaria Nacional de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, a diretoria de engenharia de Furnas, a presidência da Transportadora Brasileira do Gasoduto Bolívia-Brasil e uma diretoria da Anvisa, além de manter a diretoria de abastecimento da Petrobras.

¿ Queremos receber esses cargos ou outros correlatos. Somos a terceira bancada da base aliada, com 42 deputados, e temos todas as condições de reivindicar esses cargos ¿ disse o líder do PP na Câmara, deputado Mário Negromonte (BA).

É nesse tom, ou para cima, que o presidente Lula e o ministro Tarso Genro vão ouvir as demandas dos donos dos valiosos votos do Congresso. (Gerson Camarotti)