Título: Cresce apetite por cargos
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/02/2007, O País, p. 3

Reforma ministerial de Lula se transforma em balcão de negócios entre governo e aliados

Gerson Camarotti

Antes mesmo de chamar oficialmente os partidos para negociar a partilha de seu governo no segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu a sua reforma ministerial transformar-se num grande balcão de negócios entre o Planalto e legendas aliadas. Enquanto Lula não decide, nos bastidores seus aliados travam uma disputa desenfreada. O maior exemplo é a divisão interna no PMDB, entre as bancadas de deputados e de senadores, que passa a ser o principal entrave para a conclusão da reforma.

Preocupado com a cobiça dos aliados, Lula confidenciou a pessoas próximas, semana passada, que estava sem entusiasmo algum para cuidar do varejo da reforma ministerial. Para colocar o assunto em pauta e tentar frear a guerra dos aliados, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, chegou a pedir aos presidentes dos partidos da coalizão ¿ são 11 no total ¿ que encaminhassem ofícios pedindo audiência com Lula para tratar do tema.

O desconforto do presidente é motivado pelo que ele ouve dos interlocutores políticos: o preço cobrado pelos aliados, que elegeram o petista Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, será alto e vai incluir o segundo escalão e estatais. A primeira demonstração de força dos aliados percebida pelo Planalto foi a impossibilidade de um acordo para votar na Câmara, quinta-feira, o projeto que cria a Super-Receita.

A bancada do PMDB da Câmara quer ganhar dois ministérios, e logo. Mas o grupo peemedebista do Senado não quer abrir mão do atual espaço no governo, que inclui três ministérios, além de 17 cargos de comando em estatais, órgãos e agências. E os senadores não têm pressa. Para tentar solucionar o impasse, Lula agendou para esta semana um encontro com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer.

Esta semana, os movimentos da barganha devem chegar oficialmente a Lula. O maior temor no governo, de que esses partidos usem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para negociar a reforma ministerial, deve se concretizar.

Numa primeira consulta, semana passada, Tarso já percebeu que a pressão maior virá de PMDB, PR (ex-PL), PP e do PTB governista. Numa conversa preliminar com Temer e o líder da bancada, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o ministro ouviu dos dois muito mais do que gostaria: para ter os 90 votos do PMDB, inclusive para o PAC, a bancada na Câmara precisava de dois ministérios.

PMDB quer pastas com ¿capilaridade¿

Os deputados peemedebistas querem pastas com ¿capilaridade¿, o que no jargão da política significa dizer que o ministério tem obras e cargos em todos os estados do país. Isso dá visibilidade para os deputados, que acabam nomeando afilhados em suas bases eleitorais.

¿ Apoiamos a reeleição do presidente Lula e a eleição de Chinaglia. Estamos aguardando com paciência. Temos 90 deputados para votar unidos, além dos 8 votos do PSC. O governo vai ficar satisfeito com os 98 votos no painel. Para isso, a bancada tem que estar satisfeita ¿ avisou Henrique Alves, na Câmara desde 1971.

A insatisfação na bancada da Câmara é grande. Numa reunião informal dos deputados, foram listados todos os 17 cargos em poder do PMDB do Senado, que inclui o controle dos Correios, a poderosa Transpetro, a Eletrobrás, a Eletronorte, a Funasa, além das pastas da Saúde, das Comunicações e de Minas e Energia.

¿ Não vamos aceitar esses cargos como sendo do PMDB da Câmara. Querem indicar o técnico (José Gomes) Temporão para a Saúde na cota do PMDB. Pode ser. Mas vamos querer outros três ministérios ¿ avisa o ex-líder, deputado Wilson Santiago (PMDB-PB).

Lula sabe o que interessa ao PMDB da Câmara: Saúde, Transportes, Integração Nacional ou Cidades ¿ pastas ¿com capilaridade¿. Preocupado, ele mandou Tarso fazer um mapa colorido dos cargos em mãos dos partidos da coalizão. Quem já olhou para o mapa diz que ele é tomado pelas cores vermelha e azul, que representam o PT e o PMDB. É por isso que o PT não deve crescer tanto na reforma ministerial. Mesmo assim, aliados como os partidos que integram o bloquinho PSB-PCdoB-PDT querem compensações.

O atual líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), avisa que a cobiça terá limite.

¿ Cada partido elabora suas pretensões, tanto no primeiro escalão, como nos andares de baixo. O mapa da mina é colorido, e Lula vai saber quem está pedindo muito mais do que já tem. O PT e o PMDB estão gordos nesta Esplanada. Tem gente chorando de barriga cheia.