Título: Lula estimula as divisões internas para manter o PT sob seu controle
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/02/2007, O País, p. 4

Presidente estimulou ação da seção paulista, depois aprovou reação de Tarso.

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Para manter intacta sua influência no PT e continuar sendo, pelo menos até 2010, uma das poucas unanimidades do partido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou uma estratégia que costumava adotar quando presidia a legenda: a de estimular a divisão para não ficar enfraquecido nas disputas internas. Da mesma forma que atiça, Lula provoca recuos, de lado a lado, quando percebe que poderá ser atingido pela briga entre as tendências. É assim que ele vai mantendo o partido sob controle.

A ação do PT paulista, que tenta dar a volta por cima depois de muitos dos seus integrantes envolvidos em escândalos, foi incentivada por Lula. Quando percebeu que, segundo suas próprias palavras, os paulistas tentavam emparedá-lo, ele reagiu. Principalmente por causa da idéia de anistia de José Dirceu.

Foi Lula que, pessoalmente, deu sinal verde para Tarso Genro divulgar o seu documento preliminar, intitulado ¿Mensagem ao partido¿, que afirmava que o PT ¿viveu uma crise de corrupção programática e ética, não apenas conjuntural¿. Lula foi informado de tudo com antecedência, inclusive dos termos mais pesados do texto. Segundo um colaborador do presidente, o documento era para ser mesmo um recado direto a Dirceu.

Ação para nomear Marta é nova ofensiva de paulistas

O movimento dos paulistas cresceu com a união em torno da eleição do novo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. E agora, numa nova ofensiva, na ação para nomear Marta Suplicy para o Ministério da Educação.

A avaliação de Lula é de que a lembrança feita por Tarso dos desmandos e atos de corrupção no partido abalaria o grupo mais alinhado a Dirceu. Lula não quer na agenda política a proposta de anistia do ex-ministro e acredita que conseguiu brecar, pelo menos por enquanto, essa ofensiva de Dirceu.

No vai-e-vem entre uma tendência e outra do PT, Lula orientou Tarso a sair do centro da polêmica ¿ o que ele fez ao longo da semana ¿ e pediu que o ministro retirasse do documento sobre a refundação do PT as expressões mais fortes sobre a crise ética por causa do mensalão. Na sexta-feira, Lula estava confiante de que conseguiu o que queria: chegar fortalecido na festa dos 27 anos, em Salvador.

Segundo petistas próximos de Lula, sua estratégia é garantir que nenhum grupo estará robusto o suficiente para causar problemas ao Planalto no 3º Congresso Nacional do PT, que ocorre em julho, quando serão definidas metas e projetos eleitorais para os próximos anos.

Antes de receber Lula em Salvador, sexta-feira, o governador Jaques Wagner (PT) dizia que Lula sabe conviver com o contraditório no partido:

¿ O contraponto é ótimo para a política, e Lula sempre soube utilizar isso em favor do PT, e agora, do governo.

Esse comportamento fortalece a estratégia de ter o PT sob controle: quanto mais dividido, menos poder de pressão terá o partido. A avaliação é de que o PT, sem outro grande líder, continuará dependendo dele. E dos seus projetos. Inclusive para 2010, quando poderá, inclusive, escolher um candidato de outro partido para sucedê-lo.

Mas há quem ache essa tática de alto risco, pois pode resultar em seqüelas, no PT e na base aliada. O discurso de alguns petistas que estão chegando com força no Congresso, para a nova legislatura, é uma prova de que Lula poderá ser contestado, ainda que internamente.

¿ O Lula não é o partido ¿ afirma o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), atacando Tarso: ¿ A tese da refundação é um factóide. O PT foi aprovado nas urnas. A tese ficou velha!

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), vai além. Reconhece a influência de Lula no partido, mas alerta que na condição de presidente da República ele deve manter um distanciamento regulamentar do partido:

¿ Lula chama as pessoas para conversar e acaba influenciando nos rumos do partido, mas sempre com o distanciamento de um presidente.