Título: Ameaçadas sem defesa
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 11/02/2007, O País, p. 15

Sentia o sangue quente escorrendo pelo rosto e um frio de medo de morrer por dentro¿

RECIFE. ¿Ele só faltou me matar. Tentou me estrangular, eu sentia o sangue quente escorrendo pelo rosto e um frio de medo de morrer por dentro. Sofri calada para não acordar o meu filho, porque se ele acordasse meu ex-companheiro o mataria.¿

Francinete Conceição Sobrinho, de 44 anos, conta que passou a apanhar depois que ela disse que não o queria mais.

¿ Vi a morte. Ele disse que ia me matar, mas que primeiro ia me deformar. Vivi com um monstro em figura de gente.

Ela ficou com o rosto inchado e hematomas nos olhos e teve um dente quebrado, que na última terça-feira levou ao IML, onde fez exame de corpo de delito. Pela Lei Maria da Penha, a própria polícia deveria tê-la encaminhado ao IML. O agressor, Rubenigle Rivaldo da Silva, de 26, está solto. O delegado Isaac Ribeiro disse que recebe 15 queixas por dia. Apesar da Lei Maria da Penha, o delegado disse por que não pediu a prisão do acusado:

¿ O crime é de pequena monta para a nossa lei, porque não se vislumbra tentativa de homicídio, mas lesão corporal.

Nesse caso, para Francinete, deve haver um equívoco:

¿ A lei está muito errada. O criminoso fica solto e eu, marcada para morrer a qualquer momento.

Enquanto isso, a família de Ketty Santos, técnica em enfermagem, cumpre o mesmo ritual todo fim de mês, na vigília pelo fim da violência contra a mulher. A mãe, Osana Santos, não se conforma com o assassinato da filha no portão de casa. Ketty criava o filho de um relacionamento já encerrado. O ex-sogro, Adalberto Pereira de Lima, não admitia que o neto fosse criado pela ex-nora. Um dia Adalberto sacou uma arma e disparou contra Ketty, que morreu na hora, na frente do filho. O assassino foi preso, mas seu desejo foi consumado: o pai ganhou a guarda do menino e ainda recebe a pensão do filho, deixada pela vítima.