Título: Alemanha defende Brasil e Índia no G-7
Autor: Alvarez, Regina e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 11/02/2007, Economia, p. 34

Grupo poderia se tornar G-13, visando à estabilidade econômica global.

Graça Magalhães-Ruether*

BERLIM. A integração de países emergentes como Brasil, China, Índia, México e África do Sul ao G-7, o grupo das sete nações mais ricas do mundo, é um dos principais objetivos da atual presidente do bloco, a Alemanha. Em conferência encerrada sábado em Essen, no centro da Alemanha, os ministros da Fazenda dos países do G-7 e da Rússia e os desses emergentes deram início a uma discussão que poderá levar a uma mudança histórica de abordagem.

Ulrike Abratis, porta-voz do Ministério da Fazenda alemão, disse ao GLOBO que não estava decidido ainda se seria criado um novo grupo, chamado de G-13, mas a Alemanha é a favor da ampliação:

¿ Para o governo alemão, o essencial é a inclusão desses países importantes, para que seja possível obter, por meio das reuniões realizadas regularmente, mais estabilidade da economia mundial.

Compromisso com retomada da Rodada de Doha

Na reunião do G-7, o ministro da Fazenda alemão, Peer Steinbrueck, defendeu a ampliação, mas disse que não havia ainda um processo formal para isso. A chanceler alemã, Angela Merkel, também defende que os emergentes sejam integrados nas discussões do G-7.

Ontem, após o término da reunião, o G-7 divulgou um comunicado em que se diz comprometido com a retomada das negociações da Rodada de Doha, para a liberalização do comércio global, e demonstra otimismo com o panorama econômico global.

¿Nós firmemente acreditamos que todos os participantes têm a responsabilidade de assegurar um resultado bem-sucedido da Rodada de Doha, já que isso irá aumentar o crescimento global e contribuir para a redução da pobreza¿, afirmou a nota.

¿ Ficou claro que é preciso aproveitar essa oportunidade nas próximas semanas ou meses ¿ disse Steinbrueck.

O comunicado do G-7 também afirmou que a economia mundial está sólida, mas manifestou preocupação com o perigo de desequilíbrios nos tipos de câmbio, referindo-se explicitamente ao iene japonês. Segundo o G-7, para haver crescimento econômico, volatilidade excessiva e movimentos desordenados são indesejáveis.

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse que o mundo está desfrutando de uma das mais fortes e prolongadas expansões. Mas acrescentou que a zona do euro e o Japão deveriam fazer mais para tornar o crescimento global mais equilibrado. E voltou a criticar o câmbio chinês:

¿ Também é necessária maior flexibilidade no regime cambial da China, para reequilibrar a economia do país.

Brasil foi o único a mandar secretário em vez de ministro

Ao contrário das outras nações, representadas por seus ministros da Fazenda ¿ até o chinês Jin Renqing esteve em Essen, esbanjando autoconfiança desde que seu país começou a ameaçar tomar da Alemanha o título de campeã mundial das exportações ¿, o Brasil cancelou sua participação na última hora. O ministro Guido Mantega mandou em seu lugar o secretário de Relações Exteriores do Ministério da Fazenda, Luiz Eduardo Melin.

As delegações se reuniram na mansão onde viveu Alfred Krupp von Bohlen und Halbach, o barão do aço que ajudou os nazistas a saquearem os bens industriais dos países ocupados na Segunda Guerra. O encontro também foi uma preparação para a Conferência de Cúpula que ocorrerá em junho em Heiligendamm, na antiga parte comunista da Alemanha. Foi traçado um esboço de uma nova arquitetura do diálogo econômico mundial, que deverá ficar conhecida como ¿processo de Heiligendamm¿.

O encontro do G-7 também foi alvo de protestos. Ontem, uma passeata nas ruas de Essen reuniu cerca de 700 pessoas, que carregaram cartazes com dizeres como ¿outro mundo é possível¿, ¿tornem o capitalismo história e criem um novo mundo¿ e ¿parem os gafanhotos, proíbam os fundos hedge¿ ¿ este uma referência à declaração do vice-chanceler alemão, Franz Muentefering. Ele chamou os fundos hedge ¿ investimentos de altíssimo risco ¿ de ¿gafanhotos do capitalismo¿. Os manifestantes avisaram que esse foi um ensaio para os megaprotestos de junho, em Heiligendamm.

(*) Com agências internacionais