Título: Lula e o PMDB
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 12/02/2007, O Globo, p. 2

Depois de tourear o PT, Lula começa a semana administrando a delicada relação com o PMDB. Dando início às conversas sobre reforma ministerial, recebe hoje de manhã o presidente do partido, Michel Temer, que levará também os líderes na Câmara e no Senado. Lula vem recebendo um mau conselho: o de que deixe a reforma para depois da convenção do PMDB, em 11 de março. Negociando só com o vencedor, pagará menos. Se fizer isso, estará se metendo na briga interna e arriscando-se a perder o apoio de uma banda do partido.

Seria um contra-senso meter-se na briga do PMDB depois de dizer que não quer se envolver nem com a do PT. E seria de altíssimo risco a jogada de apoiar o ex-ministro Nelson Jobim a presidente do partido, contra Michel Temer, a quem Lula ofereceria um ministério. O fato de ele estar iniciando a conversa hoje pela via institucional, chamando o atual presidente do partido, sugere que os conselhos entraram por um ouvido e saíram pelo outro. O apoio a Jobim expressaria a opção de Lula pelo alinhamento exclusivo com o grupo do Senado, liderado pelos senadores Renan Calheiros e José Sarney. Se fizer isso, estará empurrando para a oposição o grupo que aderiu recentemente e que tem como expoentes o próprio Michel, Geddel Vieira Lima e o ex-ministro Eliseu Padilha. Estaria jogando fora todo o trabalho que teve para obter o apoio das duas alas, embora isso não signifique união do partido. Unido estaria se houvesse uma chapa única para a convenção.

Pelo papel importante que teve na eleição de Arlindo Chinaglia para presidente da Câmara, o grupo de Michel agora vem contando com a solidariedade do PT para que tenha uma participação igualitária no Ministério. E, sobretudo, para que Lula não vincule as escolhas ao resultado da convenção. Para isso, Lula terá que se apressar, escolhendo pelo menos os ministros peemedebistas antes de 11 de março. Mas eles é que farão a diferença num ministério que, então, sofrerá poucas mudanças.

Como o PMDB hoje tem dois ministérios, Comunicações e Minas e Energia, ambos ocupados por ministros ligados ao grupo Renan-Sarney, a expectativa é de que Lula entregue duas pastas ao grupo da Câmara. O que eles querem é equivalência. Ainda que Lula ache que o PMDB só mereça dois ministérios, que seja um de cada grupo.

São ministeriáveis do grupo da Câmara os deputados Geddel, Fernando Diniz e Osmar Terra. Os dois primeiros de olho em Transportes, o último cotado para a Saúde. Mas Lula estaria insistindo no nome de José Gomes Temporão, um sanitarista da Fiocruz, com boa folha de serviços prestados na área. Ele tem o apoio do governador Sérgio Cabral mas não o da bancada do Rio. E muito menos o do grupo neogovernista.

Mas, antes dos nomes, o que Lula deve deixar claro hoje é que critérios usará para acomodar o PMDB no Governo.