Título: Reforma, só depois do carnaval
Autor: Gois, Chico de e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 13/02/2007, O País, p. 3

Lula retoma negociações com aliados, mas só vai anunciar novo Ministério em março.

Chico de Gois, Gerson Camarotti e Luiza Damé

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou ontem as negociações com os partidos aliados para a reforma no seu Ministério, mas só anunciará novos nomes no início de março. Ao presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e líderes das bancadas na Câmara e no Senado, Lula garantiu que o partido ampliará seu espaço na Esplanada - hoje tem três ministérios e deverá ficar com quatro. Disse também que manterá um equilíbrio na divisão de cargos entre as duas bancadas, de deputados e de senadores.

A bancada peemedebista da Câmara receberá duas pastas e o Senado deve manter as duas atuais: Comunicações e Minas e Energia. Uma das vagas da Câmara já está praticamente decidida: o Ministério da Integração Nacional para o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). A segunda pasta ainda está em discussão. O partido vai encaminhar duas propostas: manter a Saúde, com a nomeação de um deputado, ou ficar com o Ministério das Cidades. Ontem, Geddel evitou comentar a sua indicação:

- Neste momento, eu só gostaria de estar vestido de colombina ou pierrô no carnaval da Bahia para ninguém me achar. Quero sumir!

Lula sinalizou ainda que não entrará na disputa interna do PMDB pela presidência do partido. A eleição, dia 11 de março, será disputada por Temer e Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. A decisão de Lula de fazer a reforma antes da eleição do PMDB foi considerada uma vitória da bancada na Câmara. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sugeriu a Lula semana passada que ele negociasse a reforma com o novo presidente da legenda. Ele apóia a eleição de Jobim.

- A conversa cingiu-se a dizer que haveria naturalmente uma ampliação do espaço do PMDB, que haveria equilíbrio absoluto do PMDB e que nós voltaremos a conversar sobre isso - disse Temer. - O presidente vai fazer o equilíbrio do PMDB. E, ao fazer isso, pensamos nós que ele levará em conta as bancadas do partido no Senado e na Câmara, os governadores, os cargos nos estados, enfim, o PMDB como um todo.

"Conexão política e qualidade técnica"

Temer, que foi ao Planalto acompanhado dos líderes no Senado, Valdir Raupp (RO), e na Câmara, Henrique Alves (RN), afirmou que Lula lhe disse que em 20 dias terá "o desenho" do novo Ministério concluído. Temer afirmou que o PMDB não apresentou ao governo uma lista com as reivindicações dos ministérios que deseja.

Segundo ele, Lula disse que pretende levar em consideração o tamanho das bancadas das siglas aliadas. Como o PMDB é a maior bancada da Câmara, deverá ter mais espaço, inclusive no segundo escalão e nas estatais.

Mais tarde, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, confirmou que a formação do Ministério não está vinculada à sucessão no PMDB. Lula indicou que, além do comprometimento político, os escolhidos terão de apresentar qualidade técnica.

- O presidente disse que o processo de composição do Ministério e dos outros cargos importantes no governo vai ter conexão política, respeito à coalizão, mas tem de haver em determinados cargos uma qualidade técnica muito específica. Pode ocorrer que algumas indicações esbarrem nos partidos, nessa qualificação técnica e, obviamente, o presidente vai pedir outras indicações - disse Tarso.

Lula se reúne hoje com PDT e PP para tratar da reforma. A interlocutores, Lula disse que quer mudanças mínimas em sua equipe. A reforma seria principalmente para atender o PMDB. Por isso, seriam mantidos os atuais partidos com suas respectivas pastas: o PR ficaria com os Transportes, que voltaria a ser ocupado pelo senador Alfredo Nascimento (PR-AM), e o PP ficaria com as Cidades.