Título: Embalo do PAC
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 14/02/2007, O Globo, p. 2

O PAC não é o "Abre-te, Sésamo" do crescimento. Falhas vêm sendo apontadas e a implementação envolve ainda muitas indagações. Mas, três semanas depois de seu lançamento, o governo já pode contabilizar pelo menos dois ganhos: conseguiu colocar o programa no topo da agenda política e mobilizar as energias do empresariado e do sindicalismo em torno da sigla, que, por sinal, pegou.

A fórmula adotada pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, foi a mais adequada: os ministros foram ao plenário falar a todos os deputados, ouvir todos os partidos, não apenas os governistas, o que teria um ranço exclusivista prejudicial à tramitação das medidas. Ouviram críticas e reclamações, não só da oposição, e isso é importante para que o programa ganhe a dimensão que se lhe quer dar, a de um esforço convergente, que, para ter êxito, dependerá do engajamento de todas as instituições e forças políticas, do setor público e do setor privado.

Um sinal de que o PAC mobilizou o Congresso está no grande número de emendas apresentadas às medidas, quase 700. Todos querem participar, ainda que a contragosto, ainda que desconfiando, como a oposição. Crescimento virou clamor no Brasil, ninguém pode ficar contra.

Antes da Comissão Geral - o nome parlamentar de reuniões como a de ontem -, o governo tratou de assimilar algumas mudanças que seriam ali cobradas. Pela manhã, o presidente Lula determinou ao ministro Mantega, na reunião com os líderes governistas no Planalto, que encontre uma forma de oferecer as garantias exigidas pelos sindicalistas para os recursos do FGTS que venham a ser aplicados em fundos de investimento.

Segundo a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder do bloco governista no Senado, Lula informou também que pediu medidas complementares para favorecer o agronegócio. O setor foi completamente esquecido pelo PAC, reclamou aqui na coluna ontem o líder da Minoria na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS). Segundo Ideli, uma das medidas será o fortalecimento do Seguro Agrícola. Mas muitos outros pedidos foram feitos, sobretudo de obras nos estados.

A euforia dos governistas e a reserva da oposição são parte do jogo político. Os governadores também são atores importantes, e estão tentando forçar novos ajustes, em favor dos estados.

Já os empresários seguem outros ventos, e alguns esbanjavam otimismo, depois da reunião do Conselhão (CDES) no Planalto, onde discutiram o programa e depois a reforma tributária, ouvindo a exposição do ex-governador Germano Rigotto.

- Agora, ou vai ou racha. É a chance que o país está tendo de pegar outro vento. Vamos ajudar, principalmente cobrando a qualidade da gestão - dizia o presidente da Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Roberto Godoy Pereira.

O comitê gestor do PAC, o GPAC, como já foi divulgado, é composto pelos ministros de Casa Civil, Fazenda e Planejamento, auxiliado por um grupo executivo composto por representantes das secretarias de Articulação e Monitoramento (Casa Civil), de Orçamento Federal (Planejamento), de Planejamento e Investimento Estratégico (Planejamento) e do Tesouro (Fazenda). Lula tem dito que o GPAC terá de vigiar cada ministério, cobrando o andamento dos projetos.

- Mas nós vamos ficar de fora municiando o GPAC, denunciando atrasos, burocracias, dificuldades de qualquer natureza. Quem está no governo adora uma lente cor-de-rosa. Vamos marcar cerrado - diz o presidente da Abdib.

Os empresários pediram ao governo que seja garantido o acesso on line à situação de cada pedido de licença ambiental, para que possam identificar e denunciar gargalos.

Da ministra Dilma Rousseff, eles ouviram uma notícia importante. O governo voltou atrás e vai licenciar, para concessão, os sete lotes de estradas federais a serem imediatamente recuperados. Vencerá quem oferecer o melhor lance para a exploração da estrada, com um pedágio fixado pelo próprio governo (que, antes, pensou em fazer as obras por conta própria). Será o início, diz ele, do Plano de Recuperação Rodoviária.

O clima desejado foi criado. Agora, é fazer.