Título: Venezuela e Bolívia fizeram lucro da Petrobras cair no exterior
Autor: Ordoñez, Ramona e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 14/02/2007, Economia, p. 24

COMBUSTÍVEL NOS NÚMEROS: Nacionalização de petróleo gerou perda de receita

Queda foi de R$1,1 bi na operação internacional. Morales decidiu vir ao Brasil

Ramona Ordoñez e Eliane Oliveira

RIO e BRASÍLIA. As mudanças de legislação do setor de petróleo na Venezuela e na Bolívia colaboraram para a forte redução dos ganhos da Petrobras na área internacional em 2006. O lucro líquido da companhia no exterior caiu R$1,1 bilhão: foi de R$1,45 bilhão para R$350 milhões, uma redução de 75,8%.

- Tivemos uma redução na participação nos campos na Venezuela, aumento de impostos na Bolívia e custos com a perfuração de poços secos (onde não se encontraram petróleo e gás) e de serviços de sísmica - disse o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa.

Segundo Barbassa, a nacionalização do setor petrolífero na Bolívia, que resultou no aumento de impostos de 50% para 82% desde maio, fez com que o lucro no país ficasse em R$57 milhões, contra R$250 milhões em 2005, uma queda de 77,2%. O aumento dos tributos levou a uma perda de receita de R$210 milhões.

Na Venezuela, onde a Petrobras tem participação na produção de petróleo em campos terrestres, as perdas de receita chegaram a R$370 milhões. Isso porque o governo Venezuelano assumiu 60% do controle dos campos, que antes eram 100% da Petrobras. Assim, o lucro da empresa na Venezuela também caiu, ficando em R$94 milhões, um recuo de 42,5% sobre os R$164 milhões no ano anterior.

O diretor disse que os custos elevados na perfuração de poços secos e com os serviços de sísmica ocorreram principalmente nos EUA.

Após uma negociação marcada por sinais contraditórios de integrantes do governo boliviano, o presidente da Bolívia, Evo Morales, finalmente decidiu, na tarde de ontem, encontrar-se hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Morales, que ameaçou não vir, queria sair do encontro com uma decisão sobre o preço do gás vendido ao Brasil. Lula, segundo assessores próximos, não se curvou à pressão. Fez chegar a Morales que a agenda bilateral é bem mais ampla do que uma discussão técnica.

Essa posição do governo foi ratificada ontem, mas Lula sabe que o gás natural passa pela agenda bilateral. Há duas negociações. Uma diz respeito ao combustível que abastece a Usina Termelétrica Mário Covas, em Cuiabá. O produto é vendido a US$1 por milhão de BTUs (unidade térmica britânica). Outro eixo passa pela negociação entre a Petrobras e a estatal boliviana YPFB, que vende o gás às indústrias paulistas. Morales quer que o preço suba de US$4,20 para US$5.

- Nossa expectativa é de que o presidente Lula mantenha sua posição. Mas sabemos que o assunto é delicado - disse uma fonte da área diplomática.

A indefinição de Morales irritou o governo brasileiro. Segundo fontes, Morales tem revelado inexperiência como negociador. Mesmo assim, os benefícios que Lula quer oferecer à Bolívia são significativos - acordos de cooperação, financiamento do BNDES para venda de máquinas a agricultores bolivianos, entre outros. Os presidentes também darão continuidade a um plano de integração, que inclui obras de grande porte.