Título: Lugares marcados
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 15/02/2007, O Globo, p. 2

O presidente Lula dá a impressão de que, se pudesse, não fazia reforma ministerial alguma. Vai fazê-la porque precisa ajustar a representação de sua base partidária à composição do governo. Em reformas desta natureza, presidentes acabam perdendo ministros que gostariam de conservar ou nomeando alguns a contragosto. É o ônus do presidencialismo de coalizão que nosso sistema político-partidário impõe.

Nesta semana de conversas com os partidos, Lula definiu os espaços do PP e do PMDB e concluiu que amargará pelo menos uma frustração. Não poderá nomear José Gomes Temporão, indicado pelo governador Sérgio Cabral, para o Ministério da Saúde. Na conversa de segunda-feira com o presidente do PMDB, Michel Temer e os líderes do partido, ficou estabelecido que a bancada da Câmara indicará os ministros de Integração Nacional e Saúde. Mas eles deixaram muito claro para Lula que, se Temporão for o escolhido, não representará a bancada. E quando não representa, já se sabe, não garante votos. O líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves, ligou para o governador Cabral dizendo a mesma coisa. O governador ainda tentava ontem viabilizar a indicação mas crescia no partido uma articulação em favor do deputado Reinhold Stephanes (PR), ex-presidente do Inamps e ex-ministro da Previdência de Fernando Henrique, embora continuassem também cotados o deputado Osmar Serra (RS) e o sanitarista Marcelo Castro. (PI). Já para Integração Nacional é natural a escolha do deputado baiano Geddel Vieira Lima. O grupo do Senado conservará o que tem, Minas e Energia e Comunicações.

Curiosamente, o PT e os partidos do bloco de esquerda são os que ainda estão com a situação mais indefinida. Os líderes do PP saíram da conversa de anteontem com Lula certos de que o ministro Márcio Fortes ficará na pasta de Cidades. E se isso procede, ganha força a hipótese de que Lula já tenha decidido substituir Fernando Haddad por Marta Suplicy na pasta de Educação, como deseja o PT, apesar da frase até um tanto áspera que Lula ontem dirigiu a seu partido, após o almoço no Itamaraty: "Eles podem até querer, mas quem decide sou eu." A outra pasta que poderia abrigar Marta era justamente Cidades.

É de olho em 2010 que o PT tenta forçar a corda para emplacar a ex-prefeita numa das pastas que deve ter mais visibilidade no segundo mandato. Lula está inconformado com os indicadores da má qualidade de ensino e já pediu a Haddad um plano consistente e abrangente de requalificação do ensino. Anteontem, disse a alguns líderes que chamará os cem maiores especialistas do país a contribuírem com este plano. Ele gostaria de não interromper o trabalho de Haddad mas, nesta altura, já não tem argumento político para recusar a indicação bancada por todo o PT. Nomeada, ela será um trator pavimentando sua própria candidatura em 2010.

Fica faltando atender o cada vez mais inquieto bloco de esquerda (PSB-PDT-PCdoB), que também já incensa Ciro Gomes como seu candidato em 2010.