Título: Reação contra Picciani fracassa, e o deputado é eleito presidente da CCJ
Autor: Éboli, Evandro e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 15/02/2007, O País, p. 5

Das 20 comissões eleitas ontem, 14 ficaram nas mãos de aliados do governo Evandro Éboli e Isabel Braga

BRASÍLIA. A ensaiada Reação à indicação do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça não aconteceu. Em votação secreta, o parlamentar foi eleito com ampla vantagem, obtendo 49 votos dos 60 novos integrantes da comissão. Apenas oito votaram nulo e dois em branco. Não houve qualquer resistência a seu nome. Os deputados que, nos bastidores, falavam em articular uma frente para derrotá-lo, recuaram. Mendes Ribeiro (PMDB-RS), que seria o nome alternativo, acabou eleito primeiro-vice da CCJ.

Picciani é criticado por não ter experiência jurídica e ser um dos parlamentares mais jovens da Casa. É apenas bacharel em direito e não advogado, pois ainda não tem inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Antes da sessão, havia apreensão de seu grupo político, receoso com o risco de não haver quórum para a eleição.

Picciani diz que debaterá maioridade penal na CCJ

No fim, prevaleceram os acordos. Antes da votação, Picciani já concedia entrevistas como eleito. Disse que dará prioridade ao debate do pacote com medidas contra a violência. E prometeu pôr em pauta proposta que permitiria aos estados tratar de questões criminais, idéia defendida pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB):

- A princípio, não encampo a redução da maioridade penal, mas a sociedade tem cobrado um debate sobre isso e temos que dar seguimento ao debate.

Ao tomar posse, Picciani agradeceu e reclamou de prejulgamentos em função de sua idade e pouca experiência:

- Não podemos aceitar isso e essa comissão não aceitou.

Nos bastidores muitos deputados criticaram a indicação de Picciani, mas, publicamente, o saudaram. Um dos poucos a questionar a indicação foi Chico Alencar (PSOL-RJ):

- À frente de cargos importantes na comissão, assumiram deputados que não são os mais adequados no momento de recuperação da moralidade da Casa. Estamos vulneráveis perante a opinião pública novamente.

Picciani é um dos diretores da Agrovás Agropecuária Vale do Suiá, empresa que também pertence a seu pai, o presidente da Assembléia do Rio, Jorge Picciani (PMDB). Na fazenda do grupo, fiscais do Ministério do Trabalho flagraram, em 2003, exploração de trabalho escravo. A propriedade, em São Félix do Araguaia (MT), foi incluída na "lista suja" do ministério, em 2003. Em 2005, a terra foi excluída da relação.

Das vinte comissões, 14 são comandadas por aliados do governo e seis oposicionistas. Em nenhuma das comissões que escolheram seus presidentes ontem houve disputa. Foram confirmados os acordos, mas houve arranjos de última hora. Estava tudo acertado para que o ex-ministro da Saúde Alceni Guerra (PFL-PR) fosse escolhido presidente da Comissão da Seguridade Social e Família. Uma intervenção que envolveu até o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), mudou tudo e o indicado foi Jorge Tadeu Mudalen (PFL-SP), do grupo do prefeito.

No PT, houve disputa entre as tendências e a indicação de Vignatti (SC) para Finanças e Tributação não vingou. Foi eleito o mineiro Virgílio Guimarães e o ex-ministro Antonio Palocci (SP) ficou como segundo vice-presidente. Vignatti ficou com um prêmio de consolação: relatoria do Plano Plurianual (PPA).

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