Título: Governo paralisa obras da Linha 4 do Metrô de SP
Autor: Rôxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 15/02/2007, O País, p. 15

Decisão da Secretaria de Transportes Metropolitanos foi motivada pelo fato de consórcio ter omitido laudo que aponta riscos

Sérgio Rôxo*

SÃO PAULO. A Secretaria estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo determinou ontem à tarde a suspensão das obras em todas as 23 frentes de trabalho das obras da Linha 4 do Metrô. A decisão foi motivada pelo fato de o Consórcio Via Amarela (responsável pela obra e formado pelas empresas Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), ter omitido da direção do Metrô um laudo que aponta riscos no trecho da estação Fradique Coutinho.

O documento, divulgado anteontem pelo "Jornal Nacional", foi elaborado pelo especialista em soldagem Nelson Damásio a pedido das empreiteiras. Ele cita falhas na soldagem da estrutura metálica que sustenta as paredes de escavação do poço de entrada da futura estação

"Nem Metrô nem Governo foram comunicados"

O secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, disse que a omissão por parte das empreiteiras, sobre a existência do laudo, é muito grave.

- (Determinamos a paralisação) pelo laudo e pelo acidente (ocorrido em janeiro, na estação Pinheiros, onde sete pessoas morreram). O fato mais grave ontem foi que havia um relatório e nem Metrô nem o Governo foram comunicados. Isso é muito grave. O consórcio não está cumprindo o contrato, que exige que o Metrô seja informado sobre cada coisa que está acontecendo na obra - disse Portella.

Para as obras serem retomadas, o consórcio terá que apresentar laudos sobre cada uma das frentes de trabalho. Esses laudos serão analisados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que vai liberar os trechos gradativamente, à medida em que os laudos forem sendo aprovados. A análise de todos esses documentos deverá estar concluída em 50 dias. Só então, as intervenções na Linha Amarela serão retomadas a todo vapor. No entanto, alguns trechos poderão ser liberados em dez dias.

A Promotoria da Habitação do Ministério Público já vinha pedindo há dias a suspensão da obra. A decisão de paralisá-la foi tomada em uma reunião entre os promotores, representantes do Governo e do Consórcio Via Amarela na tarde de ontem.

Segundo o documento, apresentado pelo "Jornal Nacional", a qualidade das soldas nas estrutura metálica que sustenta as paredes da futura estação estão comprometidas. Isso poderia causar um acidente. O laudo de Damásio recomenda a suspensão das obras até que as soldas sejam refeitas.

Engenheiro de consórcio diz que não há risco

Antes do anúncio da decisão, o grupo de empreiteiras havia comunicado não haver risco na estação Fradique Coutinho.

- O consórcio afirma categoricamente que nunca existiu nenhum risco - disse Walter Marangoni, engenheiro do consórcio.

O representante do Via Amarela disse também que o relatório fazia parte de um procedimento de rotina e que o laudo, contratado pelo próprio consórcio, se baseou em critérios de avaliação mais rígidos dos que o necessário. O especialista, segundo Marangoni, não tinha condições para fazer uma análise geral sobre a estrutura da obra.

O secretário de Transportes discordou:

- Um relatório que diz que pode ter acidente não é corriqueiro. Eles podiam ter contraditado o relatório, mas aceitaram. Isso não pode acontecer - disse Portella.

(*) Do Diário de S. Paulo