Título: Bolsa bate recorde e volume atinge R$14 bi
Autor: Santos, Ana Cecília e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 15/02/2007, Economia, p. 30

Perspectiva de manutenção de juros nos EUA anima investidores. Dólar volta a fechar abaixo de R$2,10

Ana Cecília Santos e Patrícia Duarte*

RIO, WASHINGTON e BRASÍLIA. A Bolsa de Valores de São Paulo teve um dia de fortes ganhos ontem por causa da repercussão favorável dos investidores às declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, de que a economia americana está saudável e que as pressões inflacionárias começam a moderar. A Bovespa encerrou o pregão com recordes de pontuação, volume financeiro e número de negócios. O Ibovespa fechou em alta de 1,77%, aos 45.995 pontos, superando os 45.382 registrados em 2 de janeiro. Influenciado também pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa, o volume financeiro atingiu R$14,30 bilhões - acima do nível máximo anterior de R$11,13 bilhões registrado em 13 de dezembro.

O dólar voltou a fechar abaixo dos R$2,10, derrubado pelo ingresso de recursos. Mesmo com o leilão de compra feito ontem pelo Banco Central (BC), a moeda americana encerrou o dia em queda de 0,75%, cotada a R$2,092. A autoridade monetária comprou dólar no mercado à vista a R$2,0984. O risco-Brasil, termômetro de confiança do investidor estrangeiro no país, atingiu ontem 180 pontos centesimais, com alta de 1,69%.

Para operadores, juro dos EUA pode cair no fim do ano

Os mercados americanos também reagiram com recordes aos comentários do presidente do Fed. A mensagem de Bernanke, em depoimento ao Congresso, diminuiu as preocupações de que o banco central dos EUA possa elevar a taxa básica de juros em breve para controlar a inflação. O índice Dow Jones subiu 0,69%, para 12.741 pontos, um recorde de fechamento. O Nasdaq fechou em alta de 1,16%, atingindo 2.488 pontos.

Bernanke afirmou que a economia dos EUA se mostra forte, com a inflação desacelerando, e disse acreditar que os atuais níveis de juros surtirão efeito na contenção das pressões sobre os preços.

- Em geral, a economia dos EUA parece inclinada a se expandir em ritmo moderado neste ano e no próximo, com crescimento se fortalecendo à medida que a queda no mercado imobiliário diminuir - avaliou Bernanke. - Existem algumas indicações de que as pressões inflacionárias estão começando a diminuir.

Apesar de dizer que a taxa de juros atual de 5,25% deve contribuir para a redução da inflação, ele afirmou que o banco central dos EUA está preparado para agir contra a alta dos preços, se necessário. Os juros americanos subiram para o atual patamar em junho do ano passado. Segundo operadores, a fala de Bernanke alimentou expectativas de que o Fed manterá a taxa no mesmo nível pelo menos até o fim do ano, um movimento que beneficiaria os lucros das empresas.

Entrada de dólares no Brasil já supera a saída em 51%

A percepção de que não haverá alta na taxa americana favorece o ingresso de dólares em economias como o Brasil, que tem juros elevados, atraentes aos investidores. Este mês, segundo dados divulgados ontem pelo BC, a entrada de dólares continua forte no país, diminuindo as chances de a cotação da moeda americana se fortalecer a curto prazo. O fluxo cambial nos sete primeiros dias úteis de fevereiro ficou positivo em US$2,829 bilhões, 17,24% a mais que os US$2,413 bilhões em igual período de 2006. Esse resultado foi influenciado pela balança comercial e pela conta financeira. No ano, a entrada de dólares supera a saída em 51%.

Pelo lado comercial, o saldo dos contratos de câmbio ficou em US$1,448 bilhão este mês, com exportações de US$3,956 bilhões e importações de US$2,508 bilhões. Já do lado financeiro, o resultado foi bem parecido, o que não acontecia havia meses: saldo positivo de US$1,381 bilhão, com compras de US$7,764 bilhões e vendas de US$6,384 bilhões no período.

Este ano, o fluxo cambial está em US$6,599 bilhões, acima dos US$4,362 bilhões em igual período do ano passado. Em 2006, a entrada de moeda estrangeira ficou em US$37,270 bilhões líquidos, recorde histórico.

(*) Com agências internacionais