Título: Sombra de Chávez pesou
Autor: Oliveira, Eliane e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 16/02/2007, Economia, p. 24

Influência sobre Morales preocupa

BRASÍLIA. A virada na posição do governo brasileiro - que, nos nove meses de negociação sobre o preço do gás vendido à Petrobras, negou-se terminante a interferir no impasse - tem como pano de fundo uma teia complexa, que passa pela necessidade de conter o fator de desestabilização que representa o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Também contribuíram a importância de se manter a estabilidade política na Bolívia e de melhorar a imagem do Brasil entre os povos sul-americanos, que já chamam os brasileiros de imperialistas.

Nos bastidores, avalia-se que não só o acordo do gás, mas também o leque de benesses oferecidas a Morales, é para minar a influência de Chávez sobre os bolivianos.

- Se não oferecermos alternativas reais à Bolívia, o país se voltará para quem der mais. Mas ser generoso não é ser bonzinho - disse uma fonte da área diplomática.

Segundo fontes do governo brasileiro, Chávez foi o mentor da nacionalização das reservas de gás e petróleo da Bolívia. Desde então, colocou a estatal PDVSA a serviço de Morales, caso a Petrobras decidisse se retirar do país vizinho; ofereceu aos bolivianos 200 mil barris de diesel por mês em troca de remessas de soja; e anunciou US$1,5 bilhão em projetos para a produção de derivados de petróleo.

Isso fez com que Lula transmitisse a Chávez a irritação do governo brasileiro. Chávez recuou, mas agora, sob o argumento de que a aliança entre Brasil e EUA no etanol seria "um plano econômico contra a Venezuela" e seu petróleo, tenta convencer Morales a formarem, com o Irã, um cartel do gás.

- Não é essa nossa intenção. Garanto que a Venezuela sempre terá clientes comprando seu petróleo - afirmou o chanceler Celso Amorim.(Eliane Oliveira)