Título: Para Lula, gás natural é carro-chefe para uma nova aliança energética
Autor: Oliveira, Eliane e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 16/02/2007, Economia, p. 24

Presidente brasileiro a Morales: "Estamos presidentes, mas somos trabalhadores"

Eliane Oliveira e Mônica Tavares

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou ontem a necessidade de integração como justificativa Para o generoso acordo sobre o preço do gás natural vendido ao Brasil pela Bolívia. Ao lado de seu "companheiro" boliviano, Evo Morales, Lula disse que o combustível - no qual o país não é auto-suficiente - será o carro-chefe de uma nova aliança energética entre os dois países.

- O gás é um fator decisivo de integração entre as duas economias. Queremos que continue a ser o carro-chefe de nossa associação energética - afirmou o presidente brasileiro.

Lula enfatizou que, além do gás, os dois países podem ser parceiros na exploração de energia renovável, na instalação de um pólo petroquímico e na construção de uma hidrelétrica binacional no Rio Madeira. Lula deixou claro que, nos próximos quatro anos, fará o possível Para que a relação entre os dois países possa avançar mais.

- Evo, antes de sermos presidentes, éramos companheiros do movimento sindical. Estamos presidentes, mas somos trabalhadores - disse Lula, que complementou: - Temos as condições Para ir muito além do gás. Seremos parceiros na revolução da energia renovável.

Brasil proporá ao Mercosul corte de tarifas Para Bolívia

Os dois presidentes assinaram 12 acordos, incluindo o do gás comprado pela Petrobras e promessas de integração energética e doação de três milhões de doses de vacinas contra febre aftosa este ano e em 2008. Outro tratado relevante diz respeito ao fortalecimento da malha rodoviária boliviana, integrando-a a redes de transportes do Brasil com outros países. Por esse projeto, "Hacia el Norte" (Rumo ao Norte), será possível o acesso ao Oceano Pacífico, do Norte do Brasil até os portos peruanos. A Bolívia também se beneficiaria com o complexo de estradas.

Lula também disse que o Brasil pretende abrir seu mercado a produtos bolivianos. Segundo ele, este será um passo importante Para que o país vizinho possa entrar como sócio pleno do Mercosul. Para isso, os brasileiros submeterão aos demais membros do bloco (Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) a proposta de reduzir as tarifas de importação a zero, beneficiando as áreas têxteis.

Já as obras no setor de energia não serão imediatas. Os dois países desenvolverão estudos Para implantação na fronteira de uma hidrelétrica com capacidade de três mil megawatts (MW), no Rio Mamoré. Os investimentos são de US$1 bilhão.

Porém, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse que o governo brasileiro não aceitará interferência no estudo de impacto ambiental que está sendo feito pelo Ibama nos empreendimentos de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira, com capacidade de sete mil MW. As duas usinas foram incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Brasil também se comprometeu com a Bolívia em colaborar na elaboração do levantamento do seu potencial de geração de energia hidráulica, que chega a 190 mil megawatts (MW). Outra proposta que está em análise é a construção de uma usina de biodiesel com capacidade de 50 milhões de litros/ano.