Título: Cerrado já perdeu 40% de sua área original
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 16/02/2007, O Mundo/ Ciência e Vida, p. 30

Agricultura, pastagens e urbanização destruíram vegetação. Satélites identificaram regiões mais afetadas

Carolina Brígido

BRASÍLIA. Um estudo divulgado ontem pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) revelou que apenas 61,2% do Cerrado estão preservados. Os pesquisadores concluíram que a ação humana é culpada pela destruição do bioma. O desmatamento foi feito para dar lugar à agricultura, a pastagens de gado e ao reflorestamento com outras espécies de árvores. A urbanização - que resultou, por exemplo, na construção de Brasília no coração do Cerrado - também foi uma das causas da destruição.

Amapá, Roraima e Pará ficaram de fora do mapa

Uma equipe de pesquisadores da Embrapa, da Universidade Federal de Uberlândia e da Universidade Federal de Goiás analisou 114 imagens obtidas pelo satélite Landsat, em 2002. Foram mapeados 204,7 milhões de hectares do Cerrado. As áreas isoladas do bioma, localizadas nos estados de Amapá, Roraima e Pará, não puderam ser mapeadas. O projeto foi financiado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Banco Mundial e ainda não terminou. A próxima etapa é calcular o percentual do Cerrado desmatado, identificando separadamente o destino dado à área destruída.

O estudo mostra que o Distrito Federal era a unidade da federação com maior cobertura original de Cerrado: 100%. Hoje, restaram 51%. São Paulo tem o maior percentual de desmatamento: apenas 15% da vegetação sobreviveram. O estado onde a vegetação foi menos destruída é o Piauí. Inicialmente, o Cerrado cobria 37% da área do estado. Atualmente, 92% dessa área estão preservados.

Segundo o estudo, as áreas com menor preservação são encontradas na porção sul do Cerrado, notadamente no sul de Goiás, Triângulo Mineiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul. As áreas mais preservadas correspondem à porção nordeste do bioma, mais especificamente no oeste de Tocantins e sul dos estados de Maranhão e Piauí.

O estudo diz, no entanto, que o percentual conservado de Cerrado no Brasil é maior do que o suposto. Em 2004, a organização não-governamental Conservação Internacional mapeou a área coberta pelo bioma e chegou à conclusão de que cerca de 57% dele tinham sido desmatados.

De acordo com os pesquisadores da Embrapa, a diferença no percentual se deve à maior qualidade das imagens de satélite utilizadas pelo órgão, que seriam 33 vezes mais precisas do que as fotografias analisadas pela ONG. Para o chefe da Embrapa Cerrados, Roberto Teixeira Alves, os dados menos alarmantes não podem servir como pretexto para a acomodação. Ele defende que os espaços já desmatados para a prática de agricultura e pecuária devem ser mais produtivos, para que não haja necessidade de se destruir mais de vegetação nativa.

- Não é por isso que vamos deixar o Cerrado ser utilizado de forma irracional. É preciso utilizar a área alterada pela ação humana para aumentar a produção de grãos, carne e leite - ressaltou.

O Cerrado brasileiro é a savana com maior biodiversidade do mundo. Tem 10 mil espécies de plantas, das quais 4.400 são exclusivas. A fauna do Cerrado também conta com espécies únicas: 19 de mamíferos, 45 de anfíbios e 45 de répteis.

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