Título: Reforma sem turbulências
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 17/02/2007, O País, p. 3

Lula troca comandantes das três Forças Armadas e deve manter Waldir Pires no cargo

Evandro Éboli

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu começar a Reforma de sua equipe, no segundo mandato, pelas Forças Armadas. Lula definiu ontem, após reunião com o ministro da Defesa, Waldir Pires, os nomes dos três comandantes militares. Uma das razões da antecipação dessa troca foi o desgaste com o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, que perdeu prestígio dentro do governo após o apagão aéreo.

Não houve novidades nas três escolhas. Lula optou pelos mais antigos das três forças. Para o lugar de Bueno, foi escolhido o brigadeiro Juniti Saito, o primeiro oficial nissei - filho de imigrantes japoneses - a chegar ao posto máximo na carreira da Aeronáutica. Saito é apontado como um nome que pode resolver a péssima relação do governo com os controladores de vôo.

Para substituir o general Francisco Albuquerque no Comando do Exército, o escolhido foi o general Enzo Martins Peri, que é chefe do Departamento de Engenharia e Construção. A troca no Comando da Marinha também será feita sem turbulência. O almirante Júlio Soares de Moura Neto será o substituto do comandante Roberto Carvalho. Moura Neto, atualmente, é chefe do Estado-Maior da Armada, o segundo na hierarquia da Força, depois do cargo de comandante.

Bueno queria intervir na troca

A escolha dos três comandantes antes da definição do nome do novo ministro é um sinal de prestígio de Waldir Pires, que encaminhou a lista dos novos comandantes ao presidente. Pires mantém excelentes relações com os três oficiais. Ele pode ser mantido no cargo por Lula.

Segundo oficiais da Defesa, os problemas com Bueno anteciparam a troca nos comandos. Ele queria intervir na escolha do seu sucessor e já havia escolhido o nome do brigadeiro Paulo Roberto Rörig de Britto para seu lugar. Britto é o quarto nessa linha sucessória. Bueno também não teria respeitado a ordem da lista dos mais antigos ao escolher o brigadeiro Neimar Dieguez Barreiro para o Superior Tribunal Militar (STM).

Essa decisão irritou profundamente o Alto Comando da Aeronáutica, que se reuniu na semana passada. Bueno chegou a enviar ofício para o STM e para Pires comunicando a indicação de Dieguez, que será anulada pelo novo comandante. O escolhido para o tribunal será o brigadeiro Willian de Oliveira Barros, que precisa passar pela sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Ao atropelar a lista dos mais antigos e indicar os brigadeiros Britto e Dieguez, Bueno, que já está na reserva, queria manter-se forte e influente. O brigadeiro José Américo, terceiro da lista, será o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. Ele é o atual chefe do Estado-Maior de Defesa.

Neimar Dieguez era um dos responsáveis pelas compras de material no exterior. Foi ele quem fez toda a transação do avião Airbus adquirido pelo atual governo e batizado de AeroLula. Ele estava atuando num negócio que envolvia a compra de helicópteros russos de transporte e de ataque, transação que não era bem-vista no Ministério da Defesa. O governo pagaria os helicópteros com estoques de carne de primeira.

Na avaliação de oficiais da Defesa, Juniti Saito deverá melhorar a relação com os controladores de vôo. Ao contrário de Bueno, ele não acha que essa atividade deva ser exercida exclusivamente por militares. Saito irá para a reserva na próxima promoção de oficiais, em 31 de março.

Quando assumiu o ministério, Waldir Pires herdou os comandantes que já estavam nos postos. Agora, ele se fortalece participando da escolha dos três novos oficiais das forças. Ele pode ser um dos atuais ministros a ser mantido no cargo.

Bueno caiu em descrédito no Palácio do Planalto. A crise do apagão pegou de surpresa o presidente Lula, que não tinha conhecimento da falta de um sistema reserva para o controle do tráfego aéreo.