Título: EUA têm meta ousada de uso de etanol
Autor: Leitão, Míriam
Fonte: O Globo, 18/02/2007, Economia, p. 24

Demanda prevista para 2017 equivale ao dobro da produção mundial atual

Eliane Oliveira e Mônica Tavares

BRASÍLIA. O mais recente sonho americano de reduzir a dependência do petróleo em dez anos e se livrar de fornecedores incômodos, como Venezuela e Irã, não vai se realizar, na avaliação do governo e do setor privado brasileiros. A meta anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de cortar em 20%, até 2017, o consumo de gasolina (atualmente 540 bilhões de litros por ano), substituindo-o por etanol e outros combustíveis renováveis é alta e ingênua demais até para os mais otimistas.

- Nossa avaliação é de que a meta de Bush não será cumprida - afirma José Nilton Vieira, coordenador-geral de Acompanhamento do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura.

Essa visão é compartilhada por Anthony Hilton, chanceler da Jamaica - país que, depois do Brasil, mais vende etanol para os EUA:

- Nem com toda boa vontade do mundo conseguiríamos atender à demanda que surgirá dentro de alguns anos.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, depois dos EUA. Fabrica em torno de 17 bilhões de litros por ano, enquanto os americanos produzem 20 bilhões. A projeção mais otimista do governo e do setor privado é de que, em uma década, a oferta brasileira aumentará para 40 bilhões de litros, volume insuficiente para atender ao mercado interno e a uma demanda adicional estimada em 110 bilhões de litros dos EUA.

- A demanda dos EUA em 2017 corresponderá a mais do que o dobro da produção mundial atual, entre 50 bilhões e 56 bilhões de litros - diz Vieira.

O consultor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Alfred Szwarc, concorda que a meta de Bush é ambiciosa, mas lembra que a produção brasileira está crescendo muito e que outros países estão nessa empreitada.

- Os países do Caribe e o Equador, por exemplo, estão indo bem, o mercado está crescendo - diz ele.

Segundo Szwarc, o Brasil tem 90 milhões de hectares disponíveis para a agricultura. Hoje, o setor usa 17 milhões de hectares para produzir o etanol a partir da cana-de-açúcar. Ele destaca que já existem entendimentos entre investidores americanos e brasileiros também. Na semana passada, a americana Sempra Energy Corp e a brasileira Etanalc anunciaram parceria para investir US$8,4 bilhões em 24 usinas de álcool combustível no país.