Título: Quatro dias do sossego, longe dos curiosos
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 21/02/2007, O País, p. 3

No litoral paulista, forte esquema de segurança garante tranqüilidade do presidente no carnaval

Lino Rodrigues

GUARUJÁ. O presidente Lula passou os Quatro dias de carnaval totalmente recluso na praia do Manduba, no Guarujá, descansando no Forte dos Andradas, uma unidade do Exército no litoral paulista. Chegou ao local na manhã de sábado e permaneceu totalmente isolado. Ele deixou o forte ontem à noite e foi para seu apartamento em São Bernardo do Campo. Hoje, volta para Brasília.

O acesso ao Forte dos Andradas, onde Lula passou o carnaval, só é permitido mediante autorização expressa do Exército, que patrulha a costa com fragata e barcos com soldados armados. Nos finais de semana normais, sem a presença do presidente, o Exército autoriza o ingresso de populares para passeios turísticos no forte, mas as visitas estiveram suspensas durante os Quatro dias. O presidente passou o carnaval caminhando pela praia, passeando de barco e pescando.

O aposentado Henry Rosa, de 77 anos, ainda tentou chamar a atenção do presidente, amarrando num poste na entrada do forte uma faixa em que pede que Lula adote a pena de morte para conter a onda de crimes bárbaros no país, como o que matou no Rio o menino João Hélio. Ele acabou sendo retirado pelos soldados do Exército.

Algumas pessoas tentaram uma audiência com Lula, mas os soldados da guarita do forte informavam que ele não receberia ninguém. Duas deixaram cartas na guarita para serem entregues ao presidente. Esse foi o caso do aposentado Orlando Lovecchio Filho, de 61 anos, que em sua carta pede ao governo que o considere vítima do regime militar. Ele perdeu a perna em 1969, quando passava em frente à Embaixada dos Estados Unidos, em São Paulo, e reivindica uma aposentadoria de até R$20 mil por mês. A bomba foi jogada por militantes de esquerda. Em janeiro, quando Lula passou dez dias de férias no local, o aposentado, que mora em Santos, já havia enviado outra carta ao presidente. Lula respondeu, dizendo-lhe que havia encaminhado o caso ao Ministério da Justiça. Desta vez, Lovecchio espera que Lula atenda sua reivindicação.