Título: Gelo para esfriar a pressão
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 21/02/2007, O País, p. 3

REFORMA MINISTERIAL

Presidente só vai retomar negociações sobre Ministério com PT e PMDB semana que vem

Gerson Camarotti

Diante das pressões a cada semana mais explícitas, principalmente do PT e do PMDB, para a ampliação de espaços no primeiro escalão do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai mudar a estratégia para fechar a reforma ministerial: pretende "dar um Gelo" nos partidos da base nos próximos dias. Só retomará as negociações semana que vem. Assim, Lula quer se livrar das pressões por um período e, ao mesmo tempo, transferir a apreensão para os partidos.

Quase dois meses após ter tomado posse do segundo mandato, o presidente avalia que a demora na definição da equipe abriu espaço para as cobranças dos aliados. Quer retomar o controle da situação e equilibrar as forças, deixando claro que é ele quem decide. Já ficou evidente, em vários momentos, que Lula não tem pressa em nomear um novo Ministério, mas agora são as disputas entre os aliados que podem atrasar mais a decisão.

Para fechar a reforma ministerial, Lula terá que resolver dois entraves: a insistência do PT em nomear a ex-prefeita Marta Suplicy para o primeiro escalão e a resistência da bancada do PMDB da Câmara em aceitar a indicação do técnico José Gomes Temporão para o Ministério da Saúde.

- Agora, os grandes problemas da reforma ministerial são o PT e o PMDB. Lula vai examinar com cuidado a lista de indicados dos dois partidos. Mas, pelo jeito, o presidente já sabe o que quer. A reforma já está em sua cabeça. A dificuldade será administrar as pressões - disse o governador Marcelo Déda (PT-SE).

Cúpula petista adota discurso cauteloso

A maior dificuldade para a reforma é o PT. Depois da campanha para ter a ex-prefeita no Ministério da Educação, os petistas mudaram o alvo e agora voltam a cobiçar a pasta das Cidades, o que cria para Lula problemas com o PP, do atual ministro Márcio Fortes, que já havia sido praticamente confirmado no cargo. E Lula tem se irritado com a ligação, feita pelo PT paulista, entre a nomeação de Marta e a sucessão presidencial de 2010.

Lula avalia que, se aceitar o nome de Marta nesses termos, antecipará o debate interno sobre a sucessão presidencial e enfraqueceria seu mandato. A irritação de Lula levou a cúpula petista a adotar discurso cauteloso, pelo menos para o público externo.

- O PT não vai negociar com o presidente Lula, mas sim oferecer sugestões. Não queremos criar pela imprensa qualquer tipo de embaraço. Até porque alguém tem dúvida de que é o presidente quem decide? - disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

No PMDB, o problema é semelhante. Mas, nesse caso, Lula acredita que a divisão entre as bancadas da Câmara e do Senado pode acabar enfraquecendo o próprio partido e facilitar a sua vida. Com o fim do carnaval, Lula fará uma avaliação do quadro.

O PMDB é fonte de preocupação para o presidente principalmente na Saúde. Lula teme o surgimento de novos escândalos, como o dos vampiros e dos sanguessugas, num ministério estratégico. Segundo assessores, o presidente foi informado de que a Polícia Federal estaria fazendo novas investigações na pasta, desta vez na Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Por isso, sua insistência em nomear técnicos de confiança e não políticos.

Mas o presidente sabe que essa não será uma tarefa fácil. A bancada peemedebista na Câmara pretende indicar uma lista com pelo menos cinco nomes de deputados para a Saúde. Lula foi informado de que o líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), já começou uma consulta informal sobre os nomes mais fortes.

- O presidente Lula sabe que terá que equilibrar as forças no PMDB. Não fomos ao Palácio do Planalto como pedintes, mas confiantes de que o partido estabeleceu uma nova relação com o governo - disse Alves.