Título: Eu sou solução, não sou problema
Autor:
Fonte: O Globo, 21/02/2007, O País, p. 4

Tarso Genro almeja Ministério da Justiça e espaço interno no partido

Chico de Gois e Chico Oliveira

BRASÍLIA E PORTO ALEGRE. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, tem dois objetivos para este ano: um, imediato, é tornar-se ministro da Justiça. O outro, de médio prazo, é ganhar espaço interno no PT e reduzir a influência exercida pelo ex-deputado, ex-ministro e ex-presidente do partido José DircEu. A depender da forma como vai mover suas peças, corre o risco de perder ambas as batalhas, embora seja, no momento, quem tem mais chances substituir Márcio Thomaz Bastos. Ontem, ele admitiu a possibilidade de assumir o ministério.

- Efetivamente existe uma possibilidade, aventada em diversas oportunidades, pela imprensa, por dirigentes partidários. Mas não há ainda uma decisão do presidente sobre isso - disse ele, em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre.

Tarso explicou que, ao concluir sua agenda, no fim do mês, com o encaminhamento das propostas de reforma política ao Congresso, aguardará a decisão do presidente sobre sEu futuro:

-- Vou aguardar a posição do presidente. Permanecer no governo, num cargo ou noutro, isso não é problema. Eu sou solução, não sou problema. Não estou postulando cargo nem estou preocupado com isso.

Embora saiba que permanecerá no governo, Tarso vê outros nomes circularem pela pasta de sEus sonhos. A nova especulação é em torno do nome do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo.

O presidente gosta de Tarso e confia em sEu trabalho. O ministro é uma espécie de curinga: comandou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Ministério da Educação, presidiu o PT em sEu momento mais crítico. No Planalto, trabalha no andar da Presidência.

Lula ficou satisfeito com a formação da coalizão de 11 partidos articulada por Tarso, e considerou que ele obteve um resultado positivo, apesar de a base ter lançado dois candidatos à presidência da Câmara.

O presidente não gosta, porém, quando as ações de Tarso ganham destaque na imprensa e atraem o olhar desconfiado, principalmente de adversários, para o Palácio do Planalto. Ou quando o ministro dá declarações consideradas equivocadas por Lula, como a que decretou "o fim da Era Palocci", no dia da reeleição do presidente.

"Mensagem ao Partido" gerou polêmica

É nesse terreno que entra em questão o segundo objetivo de Tarso: ganhar espaço no PT. A busca dessa meta pode ameaçar a nomeação de Tarso para o Ministério da Justiça. Lula quer discrição de sEu ministro.

A "Mensagem ao Partido", preparada para o terceiro congresso do PT, da qual o ministro é um dos mais de 200 signatários, gerou polêmica entre os petistas por pregar a reconstrução do partido e por ter, no texto original, abordado a questão da corrupção. Comenta-se nos bastidores do governo e do PT que Lula pediu a Tarso que tirasse o termo do documento, para não acirrar ainda mais os ânimos.

A idéia do manifesto, segundo o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), é "quebrar a lógica tradicional das tendências internas do PT". Tarso e Cardozo pertencem a um grupo que tem força eleitoral ou poder no governo, mas não força no partido. A intenção de parte do grupo é de lançar um candidato a presidente do PT, provavelmente nas eleições do fim do ano. Tarso quer participar não como candidato, mas para ganhar espaço e desalojar os integrantes do Campo Majoritário, que dominam o partido desde 1995.