Título: Foco em 2010 atrapalha ex-prefeita
Autor:
Fonte: O Globo, 21/02/2007, O País, p. 4

Lula não admite interferência do PT na sucessão, que ele quer conduzir

BRASÍLIA. A tentativa do PT de levar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy para o Ministério da Educação ou para as Cidades, com o objetivo claro de cacifá-la para a disputa presidencial de 2010, é justamente o que pode inviabilizar sua nomeação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer brecar todo e qualquer movimento de Marta, do PT ou de aliados rumo a 2010, porque ele próprio quer conduzir esse processo.

Marta e seu grupo no PT já foram avisados do incômodo do presidente com a insistência em sua indicação para o Ministério, mas não pretendem recuar. Seus aliados começaram a montar uma estratégia, iniciada com o lançamento de uma tese para o 3º Congresso do partido, que será realizado em julho.

O texto, assinado pelo grupo Novo Rumo Para o PT, de aliados da ex-prefeita, causou polêmica ao defender a possibilidade de o presidente da República convocar plebiscito sem necessidade de autorização do Congresso. Mas contém outros pontos importantes sobre reforma política e políticas de governo. A intenção dos "martistas" é ganhar espaço no PT para influenciar a disputa interna.

em janeiro, deputados paulistas se reuniram num almoço com Marta e discutiram o futuro. Ela disse que só aceitará um ministério se Lula lhe der alguma perspectiva de que ela pode ser a candidata do PT.

Marta tem trunfos a seu favor: além de ter assumido a coordenação da campanha de Lula em São Paulo no segundo turno da eleição presidencial e conseguido redução da diferença entre ele e o candidato tucano, Geraldo Alckmin, a ex-prefeita tem cumprido um roteiro de fidelidade extremada e calculada.

Engajou-se na campanha do candidato petista ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, como queria Lula, e apoiou a eleição do novo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que havia votado em Mercadante na escolha do candidato do PT em São Paulo.

Na semana passada, declaração pública de apoio

Um dos fiéis escudeiros da prefeita, o deputado federal Cândido Vaccarezza foi o coordenador da campanha do atual presidente da Câmara. Com isso, petistas avaliam que a eleição de Chinaglia equilibrou internamente o partido e agora contam com ele para ajudá-la.

Semana passada, Marta teve direito a uma declaração pública do PT de que o partido - e não só a seção paulista - quer vê-la na Esplanada dos Ministérios. Até então, a legenda não havia assumido publicamente a defesa de nenhum nome.

As ações dos "martistas" estão se dando de forma lenta e gradual. em público, negam que o documento produzido por eles mire em 2010.

- Não tem nada a ver com as eleições - afirmou o vereador paulistano José Américo, um dos signatários do texto e ex-secretário de Comunicação de Marta. - O que queremos é discutir os rumos do PT. embora sempre tenhamos pertencido ao Campo Majoritário, achamos que o campo tem de buscar construir outro padrão de direção. A cabeça bateu no teto.

Mas companheiros de Américo que almoçaram na casa de Marta admitem que o texto foi o pontapé inicial da disputa.

Marta sabe que, para ganhar a unção de Lula, terá de mostrar força. E age nesse sentido. Seus aliados têm experiência partidária de sobra: Rui Falcão foi presidente nacional do PT; Vaccarezza, secretário-geral; Devanir Ribeiro é amigo do presidente; Jilmar Tatto, que tem uma tendência própria, domina uma das regiões mais carentes e pródiga de votos em São Paulo; Carlos Zarattini é filho de um dos militantes trocados pelo embaixador americano, nos anos 60.

O próximo passo do grupo será obter apoios em outros estados, "despaulistizar" para ganhar expressão nacional. Eles enxergam em Jaques Wagner o principal adversário para 2010. O governador baiano tem a simpatia de Lula e conhece a máquina partidária. Dependendo do seu desempenho no governo da Bahia, pode largar na frente. (Chico de Góis)