Título: Transposição: bispo volta a protestar
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Fonte: O Globo, 21/02/2007, O País, p. 4

Dom Luiz, que fez greve de fome, escreve a Lula contra obra no São Francisco

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Com a intenção do governo federal de retomar o projeto da transposição do Rio São Francisco, dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA), resolveu mudar a estratégia para conseguir impedir as obras: em vez da greve de fome, que marcou o seu protesto em 2005, ele pretende fazer uma mobilização nacional com os movimentos sociais e conquistar o apoio de novos líderes políticos da região, como o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). Originalmente, o estado da Bahia é contra a obra que o governo de Lula quer levar adiante.

Amanhã, dom Luiz irá protocolar no Palácio do Planalto uma carta para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O bispo da Diocese de Barra vai pedir que o presidente retome o diálogo sobre as obras da transposição. Ele espera contar com a ajuda de Wagner. Em outubro de 2005, quando era ministro das Relações Institucionais, Wagner foi enviado por Lula ao sertão pernambucano com o objetivo de negociar o fim da greve de fome do bispo, que já durava dez dias.

- Na ocasião, Jaques Wagner era ministro. Hoje, ele é governador da Bahia, e não mais funcionário do presidente da República. Por isso, tenho certeza de que ele saberá interpretar o sentimento do povo baiano, que não aceita a transposição - disse ontem o bispo.

Presidente pretende enfrentar resistências

Dom Luiz sinalizou que não retomará a greve de fome. Na ocasião, o seu gesto causou constrangimento ao Vaticano, que chegou a dar-lhe um ultimato. O prefeito da Congregação para os bispos, cardeal Giovanni Battista Re, enviou-lhe uma carta condenando a greve de fome.

- Acho que a greve de fome já não é mais necessária. Hoje, há várias outras formas de luta. O grito já foi dado e pronto. O pessoal já acordou e está ciente da problemática da transposição do São Francisco - disse.

Segundo ele, a carta que será enviada ao presidente trará duras críticas ao projeto do governo e à ação do Ministério da Integração Nacional. O presidente Lula tem afirmado que pretende enfrentar as resistências e fazer a transposição neste segundo mandato.

- O Ministério da Integração Nacional está na contramão do governo quando insiste na transposição. Não há condições técnicas nem ambientais de levar essa idéia em frente. Por isso, quero retomar o diálogo com o presidente Lula. Vamos fazer uma forte mobilização com os movimentos sociais para impedir a transposição - disse o bispo de Barra.