Título: A expectativa de vida no MEC é baixa
Autor: Gaspari, Elio
Fonte: O Globo, 21/02/2007, Opinião, p. 7

Parece faltar pouco para que Lula substitua seu terceiro ministro da Educação, entregando a sesmaria a Marta Suplicy. Sete brasileiros ocuparam a presidência por mais de quatro anos. Só um (José Sarney) teve quatro ministros da Educação. Atualmente, a expectativa de vida dos titulares da cadeira está em 17 meses.

Na área do ensino Nosso Guia acumulou promessas, marquetagens e instabilidades. Seu programa Brasil Alfabetizado faz companhia ao Fome Zero, ao Primeiro Emprego e ao Papel Passado, que prometia a regularização da propriedade de lotes urbanos. O MEC virou uma pastelaria. Seus titulares passam mais tempo na fritura do que cuidando do expediente. Como diria o senador Marco Maciel, "as conseqüências vêm depois". Estão aí os resultados desastrosos das duas principais avaliações do ensino nacional, o Saeb e o Enem.

Cinco em cada cem jovens com idade entre 15 e 20 anos são analfabetos.

Vivem em verdadeiras fábricas de ignorância. Elas situam-se em pequenos municípios rurais (60% desses jovens), quase sempre no Nordeste (65%). Parece haver uma coincidência entre o mapa do plantio de cana e o analfabetismo da garotada. Alfabetizar adultos é boa idéia, mas deixar um pedaço da juventude no analfabetismo é idéia de jerico.

Em dezembro de 2003 o chefe da Casa Civil José Dirceu dizia o seguinte:

"O Brasil precisa enfrentar o problema da universidade pública. Como esse é um tema muito polêmico, o pau vai comer, como aconteceu na reforma da Previdência. E vamos tomar partido, porque gostamos, somos bons de disputa política e social."

Blablablá do período de esplendor do comissário. Três meses depois começou a circular em Brasília a palavra "mesada". A reforma universitária nem ao papel chegou. Enquanto se fala muito de evasão escolar nos ciclos fundamental e médio, os dados dos cursos superiores confirmam que é uma malvadeza impor a um jovem de 17 a 20 anos a escolha de uma profissão.

De cada 100 jovens que entram numa faculdade de engenharia só 41 concluem esse curso. Metade dos que entram em escolas de administração vão adiante antes da formatura. Nas faculdades de direito a saída é de 38%. Essa estatística não mostra que os alunos desistiram do estudo, pois muitos migraram, passando por percalços burocráticos e curriculares. Todo mundo teria a ganhar se fossem criadas escolas-piloto com cursos genéricos de dois ou três anos, ao fim dos quais o jovem escolheria seu destino profissional.

Seja quem for o ministro da Educação, tomara que se dedique a expor as contas das universidades sustentadas pela Viúva. Se um servidor colocar fundos públicos para render juros num banco privado, arrisca-se a ir para a cadeia. Esse receio não atinge alguns reitores. Outro dia, quando o MEC anunciou um esboço de reforma do ensino superior, o doutor Lúcio José Botelho, reitor da Federal de Santa Catarina e vice-presidente da guilda de dirigentes das universidades federais, disse o seguinte ao repórter Demetrio Weber:

"Gostaríamos de ver resolvida antes a nossa pauta histórica de autonomia universitária, reposição de professores e plano de saúde para professores e servidores."

O Magnífico prefere Bradesco ou Sul América. Com azeitona ou casca de limão?

ELIO GASPARI é jornalista.

N. da R.: Zuenir Ventura volta a escrever neste espaço nos próximos dias.