Título: Nomes, siglas e pretensões
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 22/02/2007, O Globo, p. 2

Depois do retiro de carnaval, o presidente Lula volta a tratar da reforma ministerial com os partidos aliados, recebendo hoje o PSB e o PCdoB. Mas pelo balanço das indefinições, falta muito ainda para ele chegar a uma fórmula que contente toda a coalizão, mesmo relevando critérios como densidade ou prestígio dos escolhidos. Política a gente faz com o que se tem, disse ele mesmo.

Vejamos a contenda, partido a partido, começando pelos que Lula recebe hoje. Juntamente com o PDT, eles formam o bloco de esquerda que se abespinhou com o PT na disputa pela presidência da Câmara.

1. PSB - Tem duas pastas, Integração Nacional e Ciência e Tecnologia, gostaria de conservar as duas. Lula estaria propenso a lhes dar apenas uma, alegando que o número de partidos aliados agora aumentou. Problema. E se der Integração Nacional para o PMDB, mais problema. O governador Eduardo Campos defenderá a volta do ex-ministro Ciro Gomes ao governo, para conter os que estimulam sua candidatura a presidente em 2010. Ciro já refugou mas, se voltasse, seria para a pasta que deixou.

2. PCdoB - Lula está disposto a lhes oferecer apenas a manutenção de Esportes. Eles gostariam que ele criasse uma Secretaria da Juventude, a ser ocupada pela jovem deputada Manuela D´Ávila.

3. PDT - Terá um ministério. O ministro, se depender do coração de Lula, será Miro Teixeira. Se o critério for ascendência sobre o partido, o nome é Carlos Lupi. Vivaldo Barbosa também é cotado. A pasta é que são elas. Na Previdência, seria um sinal anti-reforma. O PDT é contra qualquer mudança previdenciária. Do Trabalho, Lula não tira Luiz Marinho. O senador Osmar Dias é falado para a Agricultura mas Lula pode precisar da pasta para acomodar o PP, se der Cidades para Marta Suplicy.

4. PP - Um partido médio, relativamente fiel. O ministro Márcio Fortes, das Cidades, é benquisto até pelo PT do Rio. Mas se Lula ceder ao PT paulista, empurrando o partido para Agricultura, contentará a ala dos ruralistas mas frustrará a outra. Fortes estava na agenda de Lula ontem mas o despacho foi com técnicos do ministério. Apenas para acertar um detalhe do programa de habitação do PAC. Fortes está de férias, só volta ao trabalho na semana que vem.

4. PMDB - Encrenca grande. O PMDB de Renan-Sarney contenta-se com o que tem, Comunicações e Minas e Energia. O da Câmara, recém embarcado no governo, também quer duas. Pode ganhar Integração Nacional para Geddel Vieira Lima (BA), desde que ele aceite tocar o programa do São Francisco, que encontra objeções baianas. A outra pasta pode ser Saúde mas não com José Gomes Temporão. A fixação neste nome é do próprio Lula, usando o governador Sergio Cabral como biombo.

PTB - Sem problemas. O ministro Mares Guia (Turismo) fica, mesmo trocando de partido.

PR - Também será atendido com a volta do senador Alfredo Nascimento a Transportes.

PT - Lula recebe a Comissão Política na semana que vem, com o maior dos pedidos: Marta Suplicy nas Cidades. Isso evita a mexida que Lula não quer fazer no MEC mas cria o problema com o PP. E há o fato de Marta estar sendo cacifada como alternativa presidencial para 2010. Ministros que pensam em suceder ao chefe dão sempre um trabalho danado. Se Tarso Genro for para a Justiça, Lula precisará de um coordenador político. Pode ser Jorge Viana, outro petista.

Fora do jogo partidário, resta a escolha do sucessor de Furlan na Indústria e Comércio. Lula ainda não desistiu do empresário Jorge Gerdau. Não se deve descartar a hipótese, dizem no governo. Para a Advocacia Geral da União, Lula tem José Carlos Tófoli, da Casa Civil, ou Antenor Madruga, secretário Nacional de Justiça. Este é também uma alternativa para a Procuradora Geral da União.