Título: CUT apóia invasões do MST em São Paulo
Autor: Machado, Ismael
Fonte: O Globo, 22/02/2007, O País, p. 3

Entidade diz que pode oferecer infra-estrutura material aos sem-terra e preocupa ruralistas

Soraya Aggege

SÃO PAULO. A direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) apoiou ontem a onda de invasões iniciada em São Paulo pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) durante o carnaval. Além do apoio formal, a central afirmou, em nota, que seus sindicatos de trabalhadores rurais podem oferecer estrutura material aos sem-terra. Para ocupar as 13 fazendas em São Paulo, o MST já havia contado com o apoio de entidades ligadas à CUT.

Além das ocupações feitas este mês no Pontal do Paranapanema, outras cinco estão articuladas para acontecer até o fim de semana em Araçatuba, com dois grupos de 500 famílias, e em Andradina, onde cerca de mil famílias se organizam em três frentes. Outras duas previstas para a região do Pontal foram suspensas ontem pelo MST, como sinal de recuo estratégico para a abertura de diálogo com o governador José Serra (PSDB).

- Se for necessário, ajudaremos com estrutura material. Um terço dos nossos 3.200 sindicatos filiados é de trabalhadores rurais e a reforma agrária é uma necessidade - disse o secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, Carlos Rogério Nunes.

A decisão aumentou a preocupação dos ruralistas. A União Democrática Ruralista (UDR) vai hoje à Justiça para processar a CUT e responsabilizar a entidade por danos materiais e morais dos fazendeiros com as ocupações, segundo o presidente da entidade, Luiz Antonio Nabhan Garcia. Para Nabhan, a união de CUT e MST em São Paulo é estritamente política e visa a pressionar o governo Serra. Para pressionar o governador, várias entidades de ruralistas vão se reunir no Pontal, no próximo sábado. Os ruralistas não querem que Serra recebe o MST.

Rainha diz procurar entendimento com governo Serra

A pressão sobre o governo Serra ganhou mais um ingrediente ontem à noite, lançado pelo governo federal. A Superintendência Regional do Incra em São Paulo divulgou nota afirmando que 12 das 13 fazendas invadidas pelo MST no carnaval estão "em áreas presumidamente devolutas". O Incra alega que já disponibilizou R$29,4 milhões para que o governo paulista pague acordos judiciais, frisando que não há propostas de acordo para a liberação de mais recursos federais.

O líder das ocupações pelo MST, José Rainha Júnior, não nega o teor político das invasões. Ele disse que o MST e a CUT querem a participação do governo Serra no movimento pela reforma agrária.

- Vamos tentar um entendimento. Assim, daremos um tempo nas ocupações do Pontal para dar um voto de confiança ao governo Serra. Também tentaremos uma audiência com o governo federal - disse Rainha.

A ação conjunta da CUT com o MST irritou setores das duas entidades. A CUT paulista se sentiu traída e convocou para hoje uma reunião com os sindicalistas que aderiram ao movimento em suas regionais. Formalmente, a CUT-SP informa que vai avaliar qual deve ser o apoio ao MST. Já a direção nacional do MST não tem se manifestado sobre as invasões, dizendo que se trata de uma ação de Rainha.