Título: CNBB critica política ambiental
Autor: Machado, Ismael
Fonte: O Globo, 22/02/2007, O País, p. 3

Dom Odilo: governo só age em defesa da Amazônia "depois que floresta já está derrubada"

Ismael Machado

No lançamento da Campanha da Fraternidade 2007, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) considerou o governo Lula incapaz de conter o desmatamento na Amazônia. Apesar de reconhecer o esforço dos órgãos federais para conter a devastação na região, o secretário-geral da entidade, dom Odilo Scherer, afirmou que as medidas adotadas ainda são insuficientes. No lançamento da campanha, que tem a região amazônica como tema central, foram feitas críticas e cobranças ao governo.

- O próprio governo avalia que o processo de desmatamento continua além daquilo que poderia ser feito para preservar a Amazônia. Talvez seja preciso aprofundar a presença do Estado nesse sentido, de se ter mais vigilância nas áreas de desmatamento. Isso pode ser feito, na medida em que as áreas destinadas à agricultura e à pecuária sejam estritamente delimitadas, e não se permita mais o avanço descontrolado para áreas que não são destinadas a essas atividades, de maneira que não se chegue apenas depois que o problema já está instalado, depois que a floresta já está derrubada e queimada - disse dom Odilo.

Ministra Marina Silva foi ao evento

É a primeira vez que o lançamento da campanha ocorre fora de Brasília. O evento reuniu autoridades, como a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O local escolhido foi a Ilha do Combu, perto de Belém. No texto-base, a CNBB defende a aprovação de projetos de lei contra o trabalho escravo e o aumento da pena para grilagem. O documento também critica a morosidade do Judiciário em relação aos crimes pela posse da terra.

Um dos tópicos mais contundentes é o que convoca os católicos a uma mobilização nacional contra o latifúndio. Nesse trecho, ao se referir a ações concretas a serem feitas pelos católicos, a CNBB afirma: "Mobilização nacional para a proibição de emissão de liminares nos conflitos com o latifúndio antes que seja julgado o mérito da ação e seja, eventualmente, comprovada a posse legítima e a regularidade do domínio do imóvel."

- Estamos defendendo um diferente conceito de propriedade e um diferente conceito de produção, que seja em defesa do direito à terra, das reservas extrativistas, projetos de assentamento, comunidades quilombolas e apoio à resistência dos posseiros atingidos por barragens - disse o secretário-geral da CNBB.

Segundo a entidade, os grandes responsáveis pelo desmatamento na Amazônia não são os pequenos agricultores, mas as grandes empresas madeireiras e mineradoras e a agropecuária extensiva, incentivadas a se instalar na região, com isenções fiscais e financiamentos, como os da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), recriada pelo governo Lula.

- O plantio da soja está causando o mesmo efeito devastador da instalação das grandes empresas agropecuárias das décadas de 60 e 80 - disse dom Odilo.

Vale patrocinou ato de lançamento

A própria CNBB também foi alvo de críticas. Um manifesto divulgado por nove entidades pastorais sociais e organismos eclesiais condenou a forma como a campanha foi lançada no Pará, com o acesso restrito a convidados e o patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce. Segundo essas entidades, a Vale é uma das principais responsáveis pela destruição ambiental e por conflitos com as populações tradicionais da Amazônia. Assinaram o manifesto entidades como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Grito dos Excluídos, a Pastoral do Menor e o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM).