Título: Balança latino-americana a favor do Brasil
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 23/02/2007, Economia, p. 19

Em 2006, país só não teve superávit com Bolívia. Média importada no mês é a 3ª maior

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. Alvo de ataques de alguns setores da economia - especialmente o calçadista, o moveleiro e o têxtil - o real valorizado parece não exercer qualquer influência no comércio do Brasil com a América Latina. Em 2006, o país teve superávit com todas as nações da região, à exceção da Bolívia, devido ao gás natural. O saldo positivo regional foi de US$15 bilhões, contra US$13,8 bilhões em 2005.

O dólar baixo é compensado pelo crescimento das economias latino-americanas e pela pauta brasileira de exportações para esses mercados, em grande parte de manufaturados, produtos de maior valor agregado. Pesou ainda a redução das compras de petróleo argentino e arroz uruguaio. Em 2006, as exportações cresceram 23,41% e as importações, 40,53%. A Argentina teve déficit de US$3,6 bilhões com o Brasil, a Venezuela, de US$2,9 bilhões, o Uruguai, de US$388 milhões, e o Paraguai, de US$934 milhões. Já as vendas brasileiras para a Venezuela saltaram 60,41%.

- O Brasil comprava petróleo para ajudar a Argentina. Hoje, aumentamos nossa produção e passamos a dar preferência ao petróleo leve da África e do Oriente Médio - disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

O Uruguai tem perspectiva melhor, pois os brasileiros vão importar automóveis da Chery, montadora chinesa que está se instalando no país vizinho. O Brasil importou da América Latina, em 2006, automóvel, celular, trigo e minério. E vendeu carro, celular, produto siderúrgico, petróleo, veículo de carga e etanol, entre outros. Por causa do gás, o Brasil teve déficit comercial com a Bolívia de US$754 milhões.

Só que isso deixa o Brasil mais distante da sonhada integração com a América do Sul. Como praticamente não há barreiras no ingresso de produtos importados dos países da região, e convencido de que é preciso comprar mais dos vizinhos, o governo espera convencer os empresários a darem preferência à importação de insumos produzidos pelos vizinhos.

- Seria uma política saudável de substituição das importações, em nome da integração - disse uma fonte do governo.

Brasileiros se queixam da farinha de trigo argentina e querem ação do governo

Mas a farinha de trigo pode afetar as relações entre Brasil e Argentina. O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Samuel Hosken, afirma que a tonelada da farinha argentina é vendida a US$120, contra US$223 no mercado brasileiro, e pediu providências ao governo. A Argentina reduziu, no fim do ano passado, o Imposto de Exportação sobre a farinha de trigo de 20% para 10%. O coordenador-geral para Assuntos Multilaterais da Agricultura, Luiz Claudio Carmona, confirmou que o assunto está em análise para decidir se será aberto um processo. Mas lembrou que a importação da Argentina é pequena frente ao consumo nacional.

A média diária importada este mês, de US$414,3 milhões, só perde para as de outubro e novembro de 2006, de US$416 milhões e US$433 milhões, respectivamente, informou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os empresários brasileiros aproveitam o real valorizado frente ao dólar para aumentar suas compras no exterior.

Apesar do desempenho das importações, a Balança comercial apresentou em fevereiro, até a semana passada, um superávit de US$1,753 bilhão. As exportações estão acumuladas em US$6,724 bilhões e as importações, em US$4,971 bilhões. No ano, o superávit está em US$4,246 bilhões, com vendas de US$17,687 bilhões e compras de US$13,441 bilhões. Até o momento, as compras externas cresceram 25,3% em fevereiro e as vendas, 15,3%. A média diária exportada está em US$560,3 milhões.