Título: Chuva de recordes no mercado
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 23/02/2007, Economia, p. 19

Estrangeiros levam Bolsa a nível histórico em pontos e risco-país é o menor em 12 anos

Patricia Eloy

A volta dos investidores estrangeiros ao mercado brasileiro e os juros ainda altos fixados no país - 13% ao ano ante 5,25% nos EUA, por exemplo - levaram ontem a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o risco-Brasil a níveis até então inéditos. A Bolsa subiu 0,79% e atingiu o segundo recorde consecutivo em pontos: 46.452. Já o risco, que funciona como um termômetro da confiança dos investidores externos na economia do país, caiu 1,12%, para 176 pontos centesimais, o menor nível desde que começou a ser calculado pelo banco de investimentos americano JP Morgan, em abril de 1994.

Com o maior fluxo de dólares - que são convertidos em reais para depois serem aplicados na Bolsa de Valores - a moeda americana caiu durante a manhã e chegou a valer R$2,064, mas a atuação mais forte do Banco Central (BC) impediu uma nova queda. A autoridade monetária teria comprado mais de US$700 milhões no mercado de câmbio - mais que o dobro dos US$300 milhões desembolsados no início do ano por dia - que registrou ontem um volume financeiro de cerca de US$4 bilhões. Com isso, o dólar acabou fechando em alta de 0,19%, cotado a R$2,082.

- O dólar caminha para os R$2, apesar de o Banco Central ter sido mais agressivo - afirmou Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.

Nível das reservas internacionais brasileiras se aproxima de US$100 bilhões

As compras diárias no mercado engordaram as reservas internacionais em pouco mais de US$7 bilhões só este mês, atingindo mais de US$98 bilhões. Para analistas, a trajetória do dólar ainda é de queda, apesar da ação do BC.

O saldo de investimentos estrangeiros em Bolsa e suas apostas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) justificam o dólar mais fraco. Se, em janeiro, o balanço ficara negativo na Bovespa em R$1,26 bilhão, em fevereiro os estrangeiros voltaram às compras. Até dia 16, o saldo está em R$1,159 bilhão. As compras somaram R$19,5 bilhões.

A movimentação na BM&F também sustenta as previsões do real mais valorizado. As apostas dos estrangeiros na queda do dólar - no jargão do mercado, "posição vendida" - estão hoje em US$10,9 bilhões, bem acima dos US$6,7 bilhões de dezembro. No dia 6 de fevereiro, esse tipo de aplicação somava US$12,07 bilhões, mas com a atuação do BC no câmbio, o montante havia recuado nos últimos dias para US$10 bi, porém, subiu quase US$1 bilhão desde o dia 15.

Com isso, o dólar - hoje no menor nível desde 10 de maio do ano passado - se aproxima da mínima de 2006: R$2,056, no dia 5 de maio. Por sua vez, esta era a menor cotação desde março de 2001, último ano em que o dólar foi negociado em torno de R$1,90. E relatório do banco americano Merrill Lynch aponta que o valor justo para a taxa de câmbio seria de R$1,54 hoje, 26% abaixo do nível atual, devido às exportações.