Título: Irã expande programa nuclear
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Fonte: O Globo, 23/02/2007, O Mundo, p. 25

ONU diz que país ignorou exigências e membros do Conselho de Segurança vão discutir sanções

VIENA

Num desafio ao Conselho de Segurança da ONU, o Irã não só ignorou o prazo dado para suspender seu programa de enriquecimento de urânio, como o ampliou, informou ontem um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A recusa em observar as exigências e o prazo - que venceu na quarta-feira - deve levar à aprovação de novas sanções contra o país, além de aumentar a tensão entre Washington e Teerã.

O relatório do chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, afirma que o Irã instalou duas cascatas, ou redes, de 164 centrífugas na Usina de Natanz, sendo que há mais duas cascatas quase prontas. Isso faria parte de um esforço de passar do nível de pesquisa de enriquecimento de combustível nuclear para o de produção em "escala industrial", diz o documento.

"O Irã não suspendeu as atividades relacionadas ao enriquecimento. Continuou com as operações em sua usina piloto para enriquecimento de combustível", diz ElBaradei no relatório.

O Irã informou à AIEA que pretende ter três mil centrífugas em funcionamento por volta de maio. Está ainda construindo um reator de água pesada e uma usina de produção de água pesada. O relatório informa ainda que muitas questões continuam sem esclarecimento, e que Teerã concordou com procedimentos temporários de verificação, mas não com o monitoramento à distância de sua usina.

- A nação iraniana defende seus direitos. O direito nuclear é exigido por todos os iranianos, e ninguém no mundo pode privar a nação iraniana de seu direito - disse o presidente Mahmoud Ahmadinejad, enquanto que seu governo afirma que a exigência da ONU não tem base legal.

Blair não prevê intervenção militar

Na segunda-feira, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), mais a Alemanha, reúnem-se em Londres para esboçar uma nova resolução com sanções, informou o governo americano. Para a chanceler britânica, Margaret Beckett, as medidas devem "levar a um maior isolamento do Irã". Os EUA descreveram a posição iraniana como "uma oportunidade perdida" e, mesmo antes do anúncio do relatório, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, adiantara que seu país podia voltar à ONU.

- Utilizaremos todos os canais disponíveis e o Conselho de Segurança para alcançar o objetivo - disse Condoleezza.

Em Londres, o premier Tony Blair disse que é crescente a preocupação com o Irã, mas afastou a possibilidade de intervenção militar, apesar de os EUA já terem dois porta-aviões perto de águas iranianas:

- O Irã é um país diferente do Iraque de muitas maneiras.

O Conselho de Segurança aprovou em dezembro um resolução proibindo a transferência de tecnologia atômica ao país e estabelecendo 60 dias para a suspensão das atividades de enriquecimento de urânio. Castigos adicionais poderão incluir a proibição de viagem de membros do governo e restrições a atividades nucleares e comerciais. Mas medidas mais duras devem enfrentar sérios obstáculos de Rússia, China e alguns países da União Européia, que preferem o diálogo.

O Irã afirma que seu programa se destina apenas à produção de energia. Enquanto o urânio enriquecido é usado como combustível para reatores nucleares, o urânio altamente enriquecido também pode ser usado para a fabricação de bombas. Para analistas, Teerã acelera a instalação de equipamentos para produção de quantidade significativa de urânio para ter uma posição mais forte numa negociação com o Ocidente. Mas o relatório destaca que o país ainda está longe de enriquecer urânio em quantidades suficientes para usar nas usinas. Uma fonte na AIEA calculou que ainda sejam necessários de três a dez anos para o Irã produzir bombas atômicas.

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