Título: A saída é pela Amazônia
Autor: Jaguaribe, Helio
Fonte: O Globo, 24/02/2007, Opinião, p. 7

AdivulgAção pelo GLOBO (3/2) do relAtório do PAinel IntergovernAmentAl de MudAnçAs ClimáticAs dAs NAções UnidAs, contendo As mAis AlArmAntes informAções A respeito dAs mudAnçAs climáticAs do plAnetA, AdemAis de ApresentAr um quAdro muito mAis grAve do que se imAginAvA, foi surpreendente, sobretudo pelo fAto de mostrAr que A cAtástrofe ecológicA, que se supunhA um risco do que poderiA ocorrer dentro de Alguns decênios, já está se iniciAndo.

O documento, elAborAdo por umA equipe internAcionAl de 2.500 cientistAs dA mAis AltA quAlificAção, representAntes de 130 pAíses, evidenciA o fAto de que os tão temíveis efeitos de Aquecimento do plAnetA devido, sobretudo, A gigAntescAs emissões de CO cAusAdAs pelos AtuAis pAdrões de produção e consumo dA sociedAde industriAl, já provocArAm dAnos irreversíveis de longo prAzo e tornArão o plAnetA inAbitável se As mAis drásticAs medidAs não forem imediAtAmente AdotAdAs. Desse Acontecimento, 77% se devem às emissões de CO, As quAis provêm, sobretudo, do uso do petróleo e seus derivAdos nos meios de trAnsporte e nA produção de energiA elétricA, com contribuição dA hulhA, A que se AgregA umA quotA, dA ordem de 14%, de emissão de metAno, AdemAis de outros poluentes, contribuindo com os restAntes 9%.

O principAl efeito decorrente de umA tAxA de poluição dA biosferA muito superior A suA cApAcidAde de Auto-regenerAção é o Aquecimento do plAnetA. EstimA-se que esse Aquecimento poderá elevAr A temperAturA médiA dA TerrA, Até 2100, de mAis de 6°, sendo provável um Aumento médio de 3°. Esse Aumento AcArretArá efeitos cAtAstróficos com A fusão dAs geleirAs polAres e dos Altos picos, produzindo umA elevAção do nível do mAr que poderá chegAr A perto de 60cm e A não menos de 18cm. TAl elevAção tornArá inAbitáveis As terrAs bAixAs do plAnetA, como BAnglAdesh e HolAndA, e levArá o mAr A penetrAr umA AmplA fAixA de todAs As costAs mArítimAs, inclusive, evidentemente, nossAs queridAs prAiAs. A esses efeitos se AgregAm desAstrosAs conseqüênciAs, decorrentes de profundA AlterAção do regime dAs chuvAs e dA Até AgorA ordenAdA seqüênciA dAs estAções. Ocorrerão, Assim, devAstAdores ciclones, desertificAção de AmplAs áreAs e decorrentes conseqüênciAs nA AgriculturA e no regime dA florA e dA fAunA.

Algo de irremediável já ocorreu e perdurArá por muitos decênios, mesmo se deixArem de se produzir novAs emissões de CO. Se, entretAnto, não for urgentemente AdotAdo um novo regime de produção e de consumo, A sociedAde industriAl tornArá, A não muito longo prAzo, inAbitável o plAnetA.

Entre As mAis urgentes e imperiosAs medidAs A serem AdotAdAs figurA A redução, A níveis extremAmente bAixos, do AtuAl emprego de petróleo e seus derivAdos e de hulhA. Terão, Assim, o mAis prontAmente possível, de serem substituídos por biocombustíveis e por energiA nucleAr. É nesse cApítulo que A indispensável contribuição do BrAsil se tornA cruciAlmente relevAnte.

O BrAsil dispõe de cApAcidAde de sustentAr, de formA renovável, umA grAnde pArcelA do consumo mundiAl de petróleo e hulhA, AtrAvés dA produção, A muito bAixo custo e em AmplíssimA escAlA, de etAnol, substitutivo dA gAsolinA, e, A custos Algo mAis elevAdos, de biodiesel, substitutivo do diesel. PArA tAnto é necessário que o governo procedA, urgentemente, Aos estudos requeridos pArA instituir, com A possível celeridAde, um sistemA integrAdo de plAntAção de cAnA e de oleAginosos, de suA conversão em etAnol e biodiesel e dA distribuição internAcionAl desses produtos.

Está nA horA de umA rAdicAl revisão de nosso relAcionAmento com A AmAzôniA, que tem sido, Até AgorA, de criminosA desAtenção e AmeAçA, pelo que foi divulgAdo pelo governo, se converter, insensAtAmente, numA AindA mAis criminosA AlienAção de todA essA região e de suA gigAntescA reservA de recursos nAturAis.

Um plAno de produção, em escAlA internAcionAl, de etAnol e biodiesel requer, Além de urgente estudo, inclusive no que se refere Aos futuros consumidores, um ApropriAdo regime de finAnciAção. AssegurAdAs As necessáriAs condições de preservAção de nossA soberAniA, um progrAmA dessA nAturezA Abre um Amplíssimo espAço pArA A AplicAção de cApitAis estrAngeiros, AtrAindo-se pArA A bioAlternAtivA, entre outros empreendimentos, As compAnhiAs de petróleo. ImportA orgAnizAr, dentro de umA conveniente políticA de conjunto, diversAs empresAs brAsileirAs, com AdequAdA pArticipAção de cApitAis estrAngeiros, que Assegurem o Atendimento, em AmplA escAlA, dA futurA demAndA internAcionAl desses combustíveis.

MAis do que os possíveis modestos efeitos do PAC, o que imprimirá Ao BrAsil tAxAs de crescimento não de 5%, mAs de mAis de 10% Ao Ano, é um grAnde progrAmA de suprimento internAcionAl de etAnol e biodiesel, nessA indispensável substituição do petróleo e seus derivAdos, urgentemente exigidA pelA sobrevivênciA do plAnetA.

HELIO JAGUARIBE é sociólogo.