Título: BC gastou US$12 bi para conter queda do dólar
Autor: Duarte, Patricia e Santos, Ana Cecília
Fonte: O Globo, 24/02/2007, Economia, p. 23

Banco já usou este ano 146% mais do que nos dois primeiros meses de 2006. Reservas se aproximam de US$100 bi.

Patrícia Duarte e Ana Cecília Santos

BRASÍLIA e RIO. A entrada de dólares no país não dá trégua, e, com isso, o Banco Central (BC) vem acelerando suas compras da moeda estrangeira, batendo recordes. Já foram US$11,816 bilhões este ano. O número de janeiro de 2007 somado ao valor parcial de fevereiro já está 146% acima dos US$4,8 bilhões gastos pelo BC nas compras de dólar nos dois primeiros meses de 2006. Somente este mês, foram cerca de US$6,984 bilhões até quinta-feira, três vezes mais do que no mesmo período de 2006.

Os números indicam que o mês fechará com aquisições acima dos US$7 bilhões, também pela primeira vez. Com 15 dias úteis, fevereiro apresenta uma média diária de compras superior a US$465 milhões. O recorde mensal já havia sido batido mês passado, com compras de US$4,832 bilhões, o dobro das feitas em dezembro.

Os recursos vão para as reservas internacionais, que se aproximam do histórico patamar de US$100 bilhões - que deve ser atingido na primeira metade da próxima semana. Esse colchão serve para amenizar o impacto de possíveis crises externas. E, pelos sinais do BC, não haverá desaceleração do ritmo de compras.

- Se ainda há compra de dólares (pelo BC) é porque há espaço (para acumular mais reservas) - afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Oficialmente, o objetivo do BC é acumular mais reservas internacionais ao comprar tantos dólares no mercado, mas na prática o banco também usa seu poder para não deixar o câmbio sofrer flutuações abruptas. Mesmo com todo o apetite, o BC não tem conseguido puxar a cotação do dólar frente ao real, hoje abaixo dos R$2,10 e considerada muito baixa por alguns setores produtivos. Especialistas argumentam, no entanto, que se o BC não tivesse atuado, já poderia estar abaixo dos R$2.

O movimento do BC também traz à tona debates sobre as vantagens de o país ter reservas internacionais elevadas. Isso porque elas têm um custo fiscal. Para comprar moeda estrangeira, o governo emite títulos remunerados pela taxa Selic - hoje em 13% ao ano - e aplica os recursos em investimentos conservadores, remunerados pelos papéis americanos (os mais seguros do mundo), que rendem cerca de 4,5% anuais.

Mesmo assim, economistas acreditam que a atuação do BC está correta, porque o tamanho das reservas acaba contribuindo para a redução do risco-país - que se encontra em piso histórico -, tirando temores dos investidores e diminuindo os juros cobrados do governo e das empresas brasileiras no exterior.

- O BC ainda pode comprar mais reservas. O efeito é a queda de risco, o que acaba estimulando os investimentos no país. O benefício é indireto - disse o economista-sênior do Unibanco Asset Management, José Luciano Costa.

Outro dado positivo é a relação entre reservas e dívida, que fechou janeiro em 55,8%, contra 50,8% em dezembro.

Após dois dias consecutivos de recorde de pontuação na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os investidores aproveitaram ontem para embolsar os lucros, vendendo ações, o que levou o Ibovespa, principal índice, a fechar em queda de 0,95%, aos 46.015 pontos. Na quinta-feira, o índice chegou a 46.452 pontos, recorde histórico. As quedas de Dow Jones e Nasdaq também afetaram o índice.

A atuação do BC ontem no mercado à vista voltou a pressionar o preço do dólar, que fechou com alta de 0,33%, a R$2,089. Segundo o mercado, a autoridade monetária teria comprado cerca de US$500 milhões, a R$2,090.

Para Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da corretora de câmbio NGO, se o dólar chegar próximo aos R$2 na semana que vem, como aposta uma parcela do mercado, o BC poderá ter que atuar também no mercado futuro para conter a desvalorização:

- O dólar próximo dos R$2 pode levar o BC a realizar um leilão de swap reverso, que seria um instrumento mais completo para impedir uma queda mais acentuada da moeda americana.