Título: PT e PSDB dizem não ter dinheiro para pagar as dívidas da campanha
Autor: Lima, Maria e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 25/02/2007, O País, p. 4

Sem perspectiva de doações, partidos devem, juntos, R$30 milhões

Legenda da foto: EDUARDO Jorge, coordenador da campanha de Alckmin: "Os credores estão entendendo nossas dificuldades"

Legenda da foto: PAULO Ferreira: "Só à Coteminas devemos R$10 milhões, sem os juros"

Maria Lima e Carolina Brígido

BRASÍLIA. O PT e o PSDB caminham para um calote milionário no disputado mercado das campanhas políticas. Os dois partidos fecharam as campanhas presidenciais de 2006 com um rombo de R$30 milhões e não têm perspectiva de pagamento a curto ou médio prazos. Em dezembro, após a prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os dirigentes petistas e tucanos se comprometeram a saldar a dívida com os credores. Mas os tesoureiros reclamam da dificuldade na arrecadação de doações e admitem que não têm dinheiro.

Ao final da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferiu para o PT uma dívida de R$10,3 milhões de sua campanha. Já o comitê de Geraldo Alckmin, do PSDB, ficou no vermelho em R$19,9 milhões.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) - setor que acumula as maiores dívidas dos dois partidos -, Mário César Camargo, diz que as empresas que não receberam adiantado devem levar um "chapéu", já que tanto o PSDB quanto o PT têm "penduras" desde 2004.

O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, conta que, somadas com as contas das campanhas de 2004 (R$40 milhões), o partido tem hoje dívidas de R$50 milhões. E não há perspectiva de pagamento a médio prazo. Ao contrário de 2002, quando o dinheiro fluiu fácil sob o comando de Delúbio Soares - seja com doações de estatais ou empréstimos avalizados pelo empresário Marcos Valério -, desta vez os dirigentes do PT reclamam que o caixa está vazio.

Tesoureiro reclama por Alencar não perdoar dívida

Da dívida da campanha de Lula, o partido pagou até agora apenas R$2 milhões com recursos próprios, do Fundo Partidário. No auge da campanha à reeleição, um grupo de empresas se comprometeu com o então coordenador Marco Aurélio Garcia a pagar R$4 milhões. Nem isso nem novas doações aconteceram nesses primeiros meses de 2007.

As dificuldades de caixa podem ser ainda maiores, já que os grandes partidos foram surpreendidos com a redução das cotas de repasse do Fundo Partidário. O PT recebia por mês pouco mais de R$2 milhões e agora receberá R$1 milhão. O PSDB, que recebia R$1,5 milhão, viu sua cota cair para R$954 mil.

Uma saída, segundo Paulo Ferreira, é apertar o cerco aos filiados com cargos no governo, que deixaram de pagar o dízimo ao PT. Ele diz que, com a desorganização e a crise que se abateu sobre o PT, perdeu-se o controle e o partido deixou de arrecadar cerca de R$30 milhões nos últimos quatro anos.

- Se as empresas estão doando para o PSDB, para o PT não estão. O aspecto mais grave é que estamos nesse processo de recuperação financeira com bancos, empresas e grandes fornecedores, sem que os compromissos feitos na campanha estejam sendo honrados - disse Ferreira. - Só à Coteminas devemos R$10 milhões, sem calcular os juros. O vice José Alencar (dono da empresa) não interfere para um eventual perdão dessa dívida. É muito difícil, ele passou o controle da empresa para o filho.

Para Paulo Ferreira, a dívida deve prejudicar o partido:

- É impossível o PT organizar uma boa campanha de 2008 com uma dívida dessa.

O quadro de penúria não é diferente no PSDB. Coordenador da campanha de Alckmin e um dos responsáveis pela arrecadação, o ex-ministro Eduardo Jorge Caldas informa que o partido só conseguiu saldar até agora R$2 milhões da dívida de R$19,9 milhões, com recursos do Fundo Partidário e poucas contribuições. Mas descarta o risco de calote:

- Vamos tentar na campanha do ano que vem reorganizar o partido, revendo despesas. Estamos vendo as possibilidades de pagar essa dívida com o Fundo Partidário e só depois vamos começar uma campanha de arrecadação. Os credores estão entendendo nossas dificuldades e têm nos dado prazo para equacionar esses pagamentos. Pagaremos de qualquer jeito.

Dirigente do setor que engloba a maior fatia desses credores, Mário César de Camargo, da Abigraf, não parece tão confiante. Ele diz que as perspectivas do calote são enormes e que as grandes empresas já deixaram de prestar esse tipo de serviço por causa de "penduras" que existem desde 2002 e 2004, do PT e do PSDB:

- Está cada vez mais difícil encontrar fornecedores qualificados para atuar nessa área de campanhas.

Sete credores do PT esperam receber pagamentos

A campanha de Lula em 2006 deixou de herança para o PT sete credores. O mais prejudicado foi a Braspor Gráfica e Editora, de São Paulo, que deveria ter recebido R$3,8 milhões, mas até agora não viu o dinheiro. Já a Artur da Silveira Lara Votorantim, de Sorocaba (SP), deixou de embolsar R$2,5 milhões. A Stardoor Publicidade, de Osasco (SP), tem R$1,9 milhão a receber. E a Mack Color Etiquetas Adesivas, de São Paulo, amarga um prejuízo de R$1,8 milhão. Outros três credores - Imprime Indústria e Comércio, Caprimar Transportes e Formatars Gráfica e Editora - têm a receber pagamentos que não passam de R$50 mil. O PSDB não divulgou a identidade de seus credores - que, especula-se, podem chegar a 40.