Título: Bancada do PMDB tenta constranger presidente com lista de ministeriáveis
Autor: Guedes, Ciça
Fonte: O Globo, 25/02/2007, O País, p. 10

Partido quer levar Lula a vetar cinco deputados para nomear Temporão.

Legenda da foto: HENRIQUE EDUARDO (à direita) ao lado de Temer: consulta à Bancada

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Contrariada com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de adiar a reforma ministerial, a Bancada do PMDB na Câmara passou a adotar a linha do constrangimento para tentar barrar a nomeação do técnico José Gomes Temporão para o Ministério da Saúde na cota do partido. Os deputados peemedebistas avaliam que o gesto de Lula teve o objetivo de conter a ofensiva da Bancada em defesa de um nome próprio para a poderosa pasta da Saúde.

Apesar da preferência de Lula por Temporão, sua nomeação não será fácil. Pelo contrário. A Bancada da Câmara decidiu enviar ao presidente uma lista de indicados que, até o momento, já tem cinco nomes. Com isso, obrigaria o presidente a vetar os cinco deputados para nomear Temporão.

Para a lista virar fato consumado, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), iniciou consulta aos 91 deputados para saber as preferências de cada parlamentar.

Da lista de cinco deputados, quatro são médicos: Marcelo Castro (PI), Osmar Terra (RS), Moisés Avelino (TO) e Darcísio Perondi (RS). O quinto nome é o do economista Reinhold Stephanes (PR), ex-pefelista que já foi ministro da Previdência.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, já foi informado pelos peemedebistas que a nomeação de Temporão pode dificultar votações futuras de interesse do governo.

- Se o presidente Lula quiser indicar Temporão para a Saúde, eu fico muito feliz. Mas ele não será da cota da Câmara. Os deputados gostariam de sugerir nomes. O nome de Temporão sequer foi discutido na Bancada. Por isso, ele não atenderá à reivindicação dos deputados - avisou o líder Henrique Alves. - Vamos apresentar ao presidente uma lista com algumas opções. Pode ser um médico ou de outra área. O José Serra foi um bom ministro e não era médico.

Filiação de Temporão no ano passado irritou deputados

O presidente Lula já percebeu que terá mais dificuldade do que imaginava com o PMDB. Resistindo a pôr um político na Saúde, que tem um orçamento de R$66,3 bilhões para este ano e foi alvo de escândalos recentes, Lula insiste numa indicação técnica. Chegou a considerar a o nome de Osmar Terra, que hoje ocupa a Secretaria de Saúde do governo da tucana Yeda Crusius (RS). Mas a nomeação causaria problemas com o PT gaúcho, além de ter o veto do ex-ministro Olívio Dutra.

Foi então que Lula passou a concentrar seu foco em Temporão. Pediu ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que assumisse a indicação formal. Mas só aumentou a reação entre os deputados, porque ficaria ainda mais caracterizado que Temporão era uma preferência da Bancada do Senado.

Os deputados também se irritaram com a notícia de que Temporão se filiou ao partido no fim do ano passado e que historicamente é ligado ao grupo de sanitaristas do antigo PCB, sob influência do ex-deputado Sérgio Arouca.

Numa tentativa de solucionar o problema, o líder do PMDB vai novamente propor ao presidente a nomeação de Temporão para secretário-executivo, sendo o ministro um político. O objetivo do PMDB é claro: dar ao titular o mesmo perfil do ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha, no governo Fernando Henrique, que dispensava bom e cuidadoso tratamento à Bancada.