Título: Visita de Bush ao país afasta Lula de Kirchner
Autor: Oliveira, Eliane e Figueiredo, Janaina
Fonte: O Globo, 25/02/2007, O País, p. 13

Presença do americano no continente acentua divergências entre Brasil e Argentina sobre relação com EUA e com Chávez.

Legenda da foto: BUSH: ROTEIRO da Visita ao continente deixou de fora a Argentina

Eliane Oliveira e Janaína Figueiredo *

BRASÍLIA e BUENOS AIRES. O renovado interesse dos Estados Unidos pela América Latina, demonstrado com o envio recente de altos funcionários da Casa Branca a alguns países da região - como o secretário de Estado adjunto para Assuntos Políticos, Nicholas Burns - além da vinda do próprio presidente americano, George W. Bush, no início de março, expõe ainda mais as diferenças entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o argentino Néstor Kirchner. Os líderes dos principais sócios do Mercosul têm visões que se distanciam, especialmente, quando os focos são os EUA e a Venezuela de Hugo Chávez.

Chávez diz que enviará a Lula frasco de enxofre

Bush ficará no Brasil nos dias 8 e 9 de março e seguirá depois para Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. Sua Visita a São Paulo pegou de surpresa o governo brasileiro, que até pouco tempo trabalhava com a ida de Lula a Washington no final do próximo mês. Mas o presidente americano passará longe da Argentina, nação sul-americana que passou a fazer coro aos ataques do venezuelano Hugo Chávez à politica externa dos EUA.

A ausência de Bush não incomoda Kirchner. Na semana passada, ao lado de Chávez, o argentino deu um recado aos americanos, numa referência a seu colega venezuelano: é inaceitável para Brasil e Argentina que os EUA peçam para conter os ânimos de certos líderes sul-americanos. O presidente da Venezuela foi mais enfático: disse que enviará a Lula um frasco de enxofre para o encontro com Bush, numa lembrança ao discurso agressivo que fez contra o presidente dos EUA na ONU, no ano passado.

Fontes do governo brasileiro reconhecem que Kirchner assume mais sua relação com Chávez, mesmo que isto ponha em risco sua convivência com os EUA - definida há cerca de uma década por Guido Di Tella, chanceler argentino do ex-presidente Carlos Menem, como "relações carnais". Lula se diz aliado de Chávez, mas sempre deixou claro que não admite que isso afete o bom relacionamento do Brasil com os EUA.

(*) Correspondente