Título: Lula se apressa
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 26/02/2007, O Globo, p. 2

O presidente Lula estará hoje no Uruguai, mas as conversas sobre a reforma ministerial continuarão em curso. Há sinais de que, percebendo que a demora gera intrigas e disputas corrosivas na coalizão, ele está tentando acelerar o processo. O ministro Tarso Genro deve conversar com o representantes do PP e da bancada do PMDB na Câmara.

O presidente do PP, Nélio Dias, ligado à ala ruralista do partido, seria favorável ao deslocamento do PP da pasta de Cidades para a Agricultura. Pelo menos dois deputados do partido são cotados para a Agricultura: Hugo Biehl (RS) e Vadão Gomes (SP). Atenderiam ao objetivo de Lula de melhorar a interlocução com o agronegócio, setor em que enfrentou rejeição na campanha eleitoral. A ala mais urbana do partido, entretanto, resiste. Para o líder na Câmara, Mário Negromonte, esse assunto ficou resolvido quando o presidente, há duas semanas, teria garantido a permanência do ministro Márcio Fortes em Cidades. Lula, segundo auxiliares, acenou com a possibilidade, mas não deu garantias. Vieram depois as pressões do PT para que a ex-prefeita Marta Suplicy ocupe a pasta. Hoje a executiva deve aprovar a indicação de nomes para o Ministério e amanhã deve entregar a lista a Lula. O que o PT quer mesmo é Cidades e Reforma Agrária, que já tem, devendo indicar para esta última o deputado Walter Pinheiro.

O outro problema de Lula continua sendo a acomodação da ala do PMDB dominante na Câmara - a do senado já tem seus ministérios. Ele fez chegar ao presidente do partido, Michel Temer, que pode resolvê-lo ainda antes da convenção do partido, marcada para 11 de março. Mas o xis da questão continua no mesmo lugar: Lula querendo pôr na Saúde o ex-diretor do Inca José Gomes Temporão, que a bancada não aceita como seu representante.

Essas conversas com o PP e com o PMDB podem evoluir ainda esta semana. Quando Lula voltar de Montevidéu, vai administrar outro tipo de ressentimento, o do Uruguai para com a Bolívia, depois do acordo firmado sobre o preço do gás. Algumas bondades brasileiras podem ser oferecidas ao presidente Tabaré Vásquez, como o financiamento de empresas brasileiras para a construção de usinas e outras obras de infra-estrutura no vizinho amuado. Vásquez deve apresentar projetos seus a serem financiados pelo Focem, o fundo do Mercosul destinado a combater as assimetrias entre os quatro países.