Título: Emprego, só para maiores
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 26/02/2007, Economia, p. 13

Das vagas criadas desde 2003, apenas 15% foram para jovens e 10% para quem não tinha experiência.

Geralda Doca

Heider Damas tem 26 anos e algo que falta a milhões de brasileiros: qualificação. Formado em engenharia ambiental, ele vive em Brasília, onde é crescente a demanda por profissionais especializados. Porém, há um ano e meio Heider está em busca de seu primeiro Emprego. A saga é compartilhada pela juventude brasileira. Segundo dados oficiais sistematizados pelo economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, só uma em cada dez vagas com carteira assinada abertas no Brasil foi ocupada por alguém que procurava se colocar no mercado pela primeira vez.

O levantamento, feito com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, aponta a geração de 4,6 milhões de postos entre 2003 e 2006. Apenas 460 mil foram referentes ao primeiro registro em carteira. O restante foi recolocação de desempregados no mercado. Além disso, a faixa etária de até 24 anos foi beneficiada com apenas 15% das novas oportunidades que surgiram no período.

- Fiz vários cursos de aperfeiçoamento, mas não é isso que as empresas querem. O problema é a falta de experiência mesmo - lamentou Heider.

Pochmann avalia que, como ainda há pouca geração de vagas para o tamanho da demanda e os jovens profissionais brasileiros carecem de qualificação, o mercado se concentra na contratação dos trabalhadores experientes, especialmente se tiverem alta escolaridade. De cada duas pessoas desempregadas, uma tem menos de 25 anos.

Não espanta, portanto, que se tenha contratado mais na terceira idade do que na juventude nos últimos quatro anos: o universo de trabalhadores com mais de 50 anos ocupou 17,6% das vagas abertas. A maior parte dos postos foi destinada aos trabalhadores que têm entre 25 e 49 anos, que ficaram com uma fatia de 67,4%.

Paula Montagner, coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, departamento do ministério, enxerga um cenário positivo:

- Com a continuidade da expansão do Emprego e da atividade econômica, mais pessoas serão incorporadas, inclusive jovens.

Políticas públicas não funcionaram

Com 17 anos, a estudante Rejane da Silva Leandro também busca o primeiro registro em carteira, mas esbarra na falta de experiência:

- Procuro qualquer coisa, mas não está fácil. No mês passado, perdi uma vaga de atendente numa lanchonete porque não tenho experiência em balcão.

O desEmprego entre os jovens continua sendo um desafio. Até porque a política pública existente mostrou-se pouco eficiente. Uma das principais apostas e promessa de campanha do presidente no mandato anterior - o Programa Primeiro Emprego - não teve êxito. Segundo dados do Ministério do Trabalho, foram contratados cerca de 15 mil jovens entre 16 e 24 anos, de uma meta inicial anual superior a 150 mil.

Diante do desinteresse dos empresários em dar a primeira oportunidade de trabalho em troca de uma ajuda financeira, o governo congelou o programa em 2004 e decidiu transferir os recursos para os chamados Consórcios da Juventude, na tentativa de oferecer qualificação aos jovens desempregados de baixa renda e em situação de risco. Nos últimos três anos, 90.282 jovens receberam algum tipo de treinamento.

Um recorte da pesquisa mostra que a classe média - acima de cinco salários mínimos - também teve sua presença no mercado estrangulada. O número de demitidos superou o de admitidos nesta faixa salarial, indicando que as empresas estão substituindo funcionários com salários mais elevados por mão-de-obra mais barata, ainda que com a mesma qualificação, segundo o professor.

O estudo mostra que a escolaridade não foi fator determinante no contracheque: mais de um terço das novas vagas foi ocupado por trabalhadores com mais de 11 anos de estudo, com ensino superior. A característica predominante foi a baixa remuneração: 94,3% dos 4,6 milhões de postos pagavam até dois pisos (R$700), sendo que em mais da metade das vagas criadas o valor do contracheque variou entre um e 1,5 salário mínimo (R$525).

Tiveram vez no mercado trabalhadores com faculdade e ensino médio. No nível fundamental, o resultado foi negativo, ou seja, o país até gerou Emprego, mas demitiu mais trabalhadores do que contratou.

Segundo o economista, a má qualidade dos Empregos está relacionada ao desempenho da economia. Ele explicou que, quando o país cresce pouco, o mercado de trabalho reage de duas formas: ou continua gerando Empregos, mas de baixa remuneração - o que aconteceu no governo Lula - ou abre poucos postos, mas com salários mais elevados. Também pesou na formação dos salários o fato de a economia estar sendo puxada pelas exportações e não pelo mercado interno.