Título: Mantega diz que avisou a Serra sobre assalto 12 horas depois
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Fonte: O Globo, 27/02/2007, O País, p. 4

PARA FREAR A VIOLÊNCIA: Petista afirma, em carta, que não foi omisso

Ministro não esclarece por que demorou e não comunicou o caso à PF

Quatro dias depois de a polícia de São Paulo ter confirmado, em entrevista coletiva, que o ministro da Fazenda fora feito refém durante assalto à casa de um amigo em Ibiúna, Guido Mantega deu ontem pela primeira vez detalhes sobre o caso, em carta ao GLOBO. No texto, ele diz ser "totalmente falsa a informação" de que não deu queixa do assalto, ocorrido na terça-feira de carnaval, dia 20 passado, afirmando ter ligado, cerca de 12 horas depois do crime, para o governador de São Paulo, José Serra.

"O assalto ocorreu na noite de terça-feira última e estendeu-se pela madrugada do dia 21 de fevereiro. O ministro e sua família deixaram o sítio ainda de madrugada e pela manhã foram a São Paulo, de onde o ministro viajou a Brasília, onde chegou por volta de 14h. Foi imediatamente a uma reunião marcada com o presidente da República, no Palácio do Planalto, reunião que se estendeu até o final da tarde. Logo após retornar a seu gabinete, fez uma ligação telefônica, às 17h54m, para o governador do Estado de São Paulo, José Serra, a quem relatou os acontecimentos e solicitou as providências policiais cabíveis. O governador de São Paulo comprometeu-se a colocar as autoridades policiais do estado para resolver o assunto", escreveu a assessoria de Mantega na carta. E continuou: "Às 19h12m, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Ronaldo Marzagão, ligou para o ministro Guido Mantega, relatando as providências que já estavam sendo tomadas pelas autoridades competentes. Nova ligação entre o ministro e o secretário estadual de segurança ocorreu às 21h34m do mesmo dia", diz a carta.

O ministro foi procurado pelo GLOBO na sexta-feira, por meio de sua assessoria de imprensa e também em seu apartamento em São Paulo, mas não quis comentar o assunto. Como foi noticiado, o ministro e o dono da casa onde ocorreu o assalto não registraram boletim de ocorrência na polícia, indispensável para a investigação policial.

Mantega nega, na carta, que o governador José Serra tenha sido informado do assalto por amigos do ministro: "Quem informou o caso ao governador José Serra e acionou as autoridades competentes foi o próprio ministro", diz a carta. O ministro tem sido procurado desde sexta-feira e se recusava a falar sobre o assalto. Serra confirmou que o ministro lhe telefonou.

"Com base em uma informação errada, o jornal passou, desde então, a fazer ilações e acusar o ministro de omissão e de contribuir para elevar o índice de impunidade no país, como faz em nova manchete no dia de hoje (ontem), ouvindo diversos especialistas em segurança, que opinaram sobre um caso que não existiu da forma como relatado pelo jornal. O ministro não foi omisso, acionou as mais altas autoridades do Estado de São Paulo, que se comprometeram a investigar o caso e punir os responsáveis, como está efetivamente ocorrendo. O ministro Guido Mantega é a favor da punição dos criminosos, dentro dos limites e do rigor da lei", diz ainda a carta.

NOTA DA REDAÇÃO: As informações publicadas pelo GLOBO são da polícia de São Paulo, prestadas oficialmente - e com identificação - pelas autoridades responsáveis. Elas informaram que, em procedimento não usual, o boletim de ocorrência foi aberto pela própria polícia e não pelas vítimas. Se o objetivo do ministro era ser ágil e fazer por telefone o registro, podia ter acionado a Polícia Federal, o ministro da Justiça ou o próprio governador de São Paulo, imediatamente após o ocorrido e não cerca de 12 horas após o assalto. O GLOBO não está dando "publicidade" ao acontecimento; apenas limitou-se a noticiar o ato de violência e registrar a opinião de especialistas de que quanto mais rapidamente os fatos chegarem ao conhecimento da polícia, menos chances os criminosos têm de ficar impunes.