Título: Senador denuncia fraudes em loterias da Caixa
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Fonte: O Globo, 27/02/2007, O País, p. 8

Com base em relatório do Coaf, Álvaro Dias diz que R$32 milhões teriam sido usados em lavagem entre 2002 e 2006

BRASÍLIA. As suspeitas de fraude nas loterias oficiais chegaram ontem ao plenário do Senado. Com base em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o Senador Álvaro Dias(PSDB-PR) denunciou a existência de um suposto esquema milionário de lavagem de dinheiro por meio do resgate de prêmios de várias modalidades de loterias da Caixa Econômica Federal. Entre 2002 e 2006, cerca de R$32 milhões teriam sido lavados com o envolvimento de 75 pessoas, entre funcionários, agentes lotéricos, sorteados e criminosos.

A denúncia foi feita com a análise de 29 relatórios de casos suspeitos encaminhados pela própria Caixa ao Coaf. Num dos casos investigados, Vitório Basso teria resgatado 17 prêmios no valor total de R$4 milhões, sendo várias modalidades de loterias, no mesmo dia. Mas o caso mais escandaloso é o de Alécio Gouveia, que teria sido sorteado 525 vezes, com prêmios no valor de R$3,8 milhões.

Segundo o dossiê apresentado por Álvaro Dias, a fraude segue um roteiro: o interessado na lavagem criminosa, com ajuda de funcionários, é avisado sobre a presença de algum vencedor da loteria em agência da Caixa. O saque do prêmio era efetuado pelo próprio ganhador, mas, com a conivência de alguém da Caixa, o prêmio era pago com o dinheiro do interessado em fazer a lavagem do dinheiro proveniente do crime organizado.

- Todos nos lembramos do fenômeno João Alves. Quando apanhado, na CPI do Orçamento, com uma fortuna não justificada em suas contas bancárias, ele declarou que ganhara inúmeras vezes na loteria. Pois ele fez escola! Os alunos o superaram, porque há aqueles que ganham muito mais do que ganhou João Alves nos áureos tempos - comparou Álvaro Dias, em discurso no plenário.

Caixa enviou relatórios de casos suspeitos ao Coaf

Em nota, a direção da Caixa Econômica Federal afirmou que as investigações do Coaf estão sendo feitas justamente com base em relatórios encaminhados pela instituição bancária. A maioria dos pagamentos citados na documentação, segundo a CEF, teria sido feita até o ano 2000. "A ação conjunta do Coaf, Polícia Federal e Caixa, com o descredenciamento de unidades lotéricas envolvidas em irregularidades, é a responsável pela diminuição dessa ocorrência nos últimos anos", diz a nota da Caixa.

A explicação da Caixa não satisfez Álvaro Dias. Ele disse que é muito pouco a CEF apenas comunicar ao Coaf sem tomar providências internas para evitar a continuidade do crime. Entre os crimes atribuídos a alguns dos envolvidos há estelionato, homicídio, sonegação fiscal, contrabando, porte ilegal de armas, evasão de divisas, loterias clandestinas, crimes contra o sistema financeiro, declaração falsa e lesão corporal. Para tentar acabar com o esquema de lavagem de dinheiro via loterias, o Senador tucano apresentou um projeto de lei estabelecendo critérios rigorosos para o pagamento dos prêmios.

Entre as mudanças, ao sacar o prêmio o vencedor deverá comprovar a origem dos recursos de suas apostas; o gerente somente poderá pagar após comunicação prévia à central de loterias, ao Coaf, ficando o saque bloqueado até liberação por esses órgãos. Por fim, o saque só se concretiza depois da identificação completa do sacador e a verificação se o mesmo tem antecedentes criminais.