Título: Brasil e EUA farão acordo sobre etanol
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 27/02/2007, O País, p. 8

Aliança, que deve ser formalizada na visita de Bush, prevê cooperação

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. A assinatura de um acordo de cooperação na área de combustíveis renováveis pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, durante a visita do americano a São Paulo, em 8 e 9 de março, será o pontapé inicial para uma aliança entre os dois países na produção e expansão do etanol. O esboço do memorando de entendimentos já está pronto no Planalto e prevê, entre outros pontos, incentivos conjuntos para a instalação de usinas de biocombustíveis em outros mercados, com ênfase para América Central, Caribe e África.

A atuação em terceiros países será marcada pela transferência de tecnologia Brasileira na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, uma vez que se tratam de nações tropicais, assim como o Brasil. Os EUA, que fabricam o combustível utilizando o milho, entrariam com recursos para o financiamento de projetos. Segundo fontes do governo que trabalham no tema, a aliança em mercados menos desenvolvidos também teria a forte participação do setor privado.

O texto que trata do memorando de entendimentos também prevê a criação de um grupo de trabalho permanente, com representantes dos dois países. Os técnicos serão encarregados de traçar programas bilaterais, regionais e multilaterais. Existe uma proposta de levar o etanol para a Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A padronização técnica do etanol, para que no futuro o combustível possa se transformar em commodity internacional, também está prevista no documento a ser assinado pelos dois presidentes. Para isso, Brasil e EUA, que são responsáveis por mais de 70% da produção mundial, desejam o aumento substantivo de países produtores e consumidores de etanol. Com esse objetivo, espera-se que, dentro de alguns meses, seja firmado um convênio em que as instituições de pesos e medidas Brasileira (Inmetro) e americana (Nist) terão como base normas técnicas uniformes e reconhecidas mutuamente na certificação do produto.

Uma fonte da área diplomática disse que, pelo menos por enquanto, o etanol é o único tema sobre o qual está confirmada a assinatura de um acordo de cooperação bilateral. Interessado em se livrar do incômodo de ter a Venezuela e o Irã como principais fornecedores de petróleo dos EUA, Bush colocou a questão energética como uma das grandes prioridades de sua política externa.

Mas a agenda que será discutida pelos dois presidentes não abrangerá somente a produção de combustíveis renováveis. Estão na pauta o aquecimento global, a paralisação das negociações da Rodada de Doha, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a situação no Oriente Médio e o cenário político na América do Sul.

Sobre a América do Sul, será inevitável uma conversa reservada entre Lula e Bush sobre o polêmico presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que tem conseguido o apoio de outros países sul-americanos em seu discurso contra a politica externa dos EUA. Destacam-se os apoios de Bolívia, Equador e Argentina.