Título: Escola vira vilã no orçamento
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 27/02/2007, Economia, p. 21

O CUSTO DA EDUCAÇÃO

Mensalidades têm alta de até 83% desde 2000, bem acima dos 60,5% de inflação

Bruno Rosa

Apesar de o investimento em educação ser considerado prioritário, grande parte das famílias está encontrando dificuldade para matricular seus filhos nas Escolas particulares. O motivo é a alta nos preços das mensalidades. Um dos maiores aumentos, que supera e muito a inflação, concentra-se na principal faixa de ensino, o fundamental (que agora compreende nove anos de estudo, do antigo C.A. à 8ª série), ficando abaixo apenas do ensino médio (antigo segundo grau).

Segundo levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido do GLOBO, as mensalidades do ensino fundamental subiram 80,71% entre 2000 e janeiro deste ano, atrás apenas das do ensino médio, com aumentos de 83,87% no período. O ensino superior teve variação de 74,48%. Os cursos de educação infantil subiram 69,90% e também ficaram acima da inflação no período - de 60,53%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC, da FGV).

Triplicam matrículas em Escolas públicas

Segundo economistas e empresários, a inadimplência, que chega a 20% em alguns colégios, os custos administrativos das instituições e os reajustes salariais dos professores particulares (pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor mais 1%) pressionam as mensalidades. A alta nos preços revela ainda forte migração para a rede pública. Entre 1994 e 2005, o número quase triplicou: passou de 232.067 para 606.073 alunos.

- O custo da educação tem peso de 4,5% no orçamento familiar. Os custos administrativos têm aumentado no ensino fundamental, faixa de ensino mais importante, quando é feita a formação do aluno - avaliou André Braz, economista da FGV.

Em janeiro de 2007, em comparação com o mesmo período do ano anterior, o ensino fundamental concentrou o maior reajuste: 5,7%, contra inflação de 0,69% no país, pelo IPC. O ensino médio subiu 5,05%. O superior registrou aumento de 4,06%. Segundo Braz, o ensino superior tem menor pressão devido à forte concorrência. A oferta no ensino médio é maior, e a demanda, menor, já que muitos alunos optam por Escolas militares e cursos técnicos, ressaltou o economista.

Segundo Edgar Flexa Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio Sinepe-Rio), as Escolas sofrem com a inadimplência. No Centro Educacional da Lagoa (CEL), as mensalidades subiram 6% este ano. Segundo George Cardoso, diretor da Escola, a instituição reduziu custos como energia elétrica e telefone.

- Metade dos pais dos alunos atrasa o pagamento dentro do próprio mês. No fim de cada mês, o atraso fica em torno de 20% - disse.

Na rede Dínamis, segundo Zilda Plombon, diretora da instituição, a inadimplência está na casa dos 15%. A Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (Cide) ressaltou o peso do calote e os custos com a folha de pagamento dos professores. Entre 2004 e 2005, 58 creches e 20 Escolas do ensino fundamental fecharam as portas.

- A inadimplência não é o único fator. A questão é que as Escolas particulares, que deveriam ser apenas um complemento, têm a função do sistema público de ensino, porque o governo não investe em educação- disse Francílio Leme, presidente do Sindicato dos Professores do Rio.

Com dois filhos, a supervisora de atendimento Cleomar Alvez sente o impacto das mensalidades Escolares:

- É um gasto enorme, ainda mais porque tenho uma filha de três anos e um filho de cinco. Os custos com educação representam 30% do orçamento - afirmou Cleomar.